Hérika Dias / Agência USP de Notícias
Uma técnica desenvolvida no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – Setor de Reprodução Humana da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP aumentou de 20 a 30% a motilidade progressiva (capacidade de se mover) do espermatozoide descongelado. A novidade é que os pesquisadores utilizaram um aditivo de origem vegetal, com grau de pureza acima de 99%, que associado a macromolécula proteica (carreador de lipídios), aumenta a proteção da membrana do espermatozoide durante a criopreservação. O aditivo pode ser aplicado tanto no congelamento de sêmen humano quanto de outros mamíferos.
A criopreservação de sêmen é muito empregada nas técnicas de reprodução assistida, como inseminação artificial e fertilização in vitro, entre outros procedimentos. Ela consiste no congelamento do sêmen fresco para conservá-lo e ser utilizado posteriormente. Entretanto, durante o processo de congelamento e descongelamento ocorrem danos químicos e mecânicos na membrana do espermatozoide, que podem reduzir a motilidade e a funcionalidade.
No caso de sêmen humano, para realizar o congelamento é criado um meio padrão que contém em sua formulação a gema de ovo, composta por lipoproteínas, colesterol, fosfolipídios. Esse aditivo é usado para criar uma camada bioprotetora na membrana do espermatozoide. “Atualmente, o congelamento de sêmen humano tem bons resultados, mas ainda não é satisfatório. Na criopreservação de sêmen, um dos pontos lesados no espermatozoide é a membrana espermática, mas também ocorre com muita frequência a geração de radicais livres, que podem fragmentar o DNA ”, explica a bióloga Alessandra Vireque, uma das pesquisadoras do estudo.
Outro problema apontado por Alessandra é o uso da gema de ovo como aditivo. “A gente sabe que todo aditivo de origem animal tem um risco de veiculação de microorganismos e até de transmissão de doenças infecciosas. Daí a nossa ideia de trabalhar um aditivo de origem vegetal.”
Fosfatidilcolina
A equipe formada por Alessandra, a farmacêutica Marilda Dantas, o estudante Oswaldo Ortiz da Silva e a professora da FMRP Rosana Reis começaram a estudar um fosfolipídio de origem vegetal que pudesse ser adicionado ao meio padrão durante a criopreservação e melhorasse os resultados do método. E o fosfolipídio escolhido foi a fosfatidilcolina obtida da soja.
“Esse lípidio é obtido da semente de soja, dessa semente é extraído um óleo e esse óleo é purificado. Trabalhamos com a fosfatidilcolina obtida da soja, rica em ácido linoleico (ômega 6) e com alto grau de pureza, acima de 99%”, afirma a Alessandra. Nos testes, a fosfatidilcolina se mostrou efetiva em proteger a membrana plasmática dos danos causados pelo processo de congelamento e capaz de proteger a célula contra a formação de radicais livres e a fragmentação do DNA.
“Quando se analisa um espermograma (exame que visa analisar as condições físicas e químicas do sêmen), é preciso avaliar alguns parâmetros como a quantidade de espermatozoide, quantos estão móveis (motilidade), ou seja, tem a capacidade de chegar até o óvulo para penetrar e fertilizar, a porcentagem de vivos e tem que estar normais. Quando você faz um congelamento e descongelamento de sêmen, perde-se muito das características dele, principalmente em relação a motilidade e a vitalidade, não se consegue recuperar todos os espermatozoides. Com o uso da fosfatidilcolina vinda da soja, percebemos que houve uma melhora na qualidade dos espermatozoides”, explica a professora Rosana.
Patente
A tecnologia já teve o seu processo de patente realizado pela Agência USP de Inovação e está disponível para licenciamento ou parceria com a USP para desenvolvimento industrial e comercialização.
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Mais informações: emails [email protected], com Rosana Reis, e [email protected], com Alessandra Vireque
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