O uso da nanociência para fins medicinais está entre as aplicações mais promissoras da tecnologia. São muitos os compostos e remédios que a empregam para melhorar e intensificar seus resultados. E são eles alguns dos objetos principais de pesquisa do Centro de Nanotecnologia de Engenharia Tecidual e Fotoprocesso, criado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP pelo professor Antonio Tedesco.
O Centro, que conta hoje com um grupo de 21 pesquisadores de diversos níveis, foi a primeira sede de nanotecnologia montada no Brasil, tendo origem a partir do antigo Laboratório de Fotomedicina.
Ao frequentar a Escola de Medicina de Harvard, nos EUA, e o Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale, na França, Tedesco pôde entrar em contato com diversas tecnologias em terapia conta o câncer e doenças de pele. A criação do Centro foi a maneira encontrada para concentrar o desenvolvimento de estudos relacionados à área no Brasil. Suas principais análises estão voltadas para engenharia tecidual, tratamentos de câncer, fotoprocessos, doenças neurodegenerativas, e cuidados para doenças de vias aéreas superiores.
Dentro deste escopo, o grupo trabalha com quatro linhas principais de pesquisa. A primeira compreende o uso de nanocarreadores e nanoveiculadores para ativos, utilizados em tratamentos do câncer que fazem uso de quimioterápicos e fotoquimioterápicos.
A segunda linha de estudos utiliza a nanotecnologia para o desenvolvimento de órgãos e tecidos. Nela são examinados fatores que contribuem para tratar a neoplasia, queimaduras e acelerar cicatrizações. Para que isso seja possível, o Centro promove a produção de pele no laboratório a partir de uma biópsia realizada no paciente. Após a completa constituição da pele, camada por camada, ela é enviada para os ambulatórios realizarem a aplicação. Os compostos incorporados no tecido são produzidos a partir de sistemas nanoparticulados.
Outro campo de pesquisa se concentra no emprego de sistemas nanoparticulados no tratamento de doenças neurodegenerativas, entre elas o mal de Parkinson, o Alzheimer e a epilepsia crônica. O princípio é o mesmo dos demais tratamentos existentes – com a diferença de que os nanomateriais apresentam uma maior capacidade de penetrar na barreira hematoencefálica, otimizando os resultados em diversos níveis. Em relação à doença de Parkinson, o grupo está concluindo estudos em modelos animais e migra agora para a fase clínica. Conforme o pesquisador, foram obtidos bons resultados relacionados à regressão da doença.
A quarta área de estudos do grupo são os sistemas nanoparticulados que veiculam ativos para o tratamento de patologias de vias aéreas superiores, em um projeto que conta com a parceria da Fapesp e da Biolab Farmacêutica.
Quando um nanodispositivo veicula o fármaco, são acionadas novas propriedades para o medicamento, relacionadas à distribuição dele no organismo, à interação com as células e com os tecidos de interesse, ao seu tempo de vida e à forma como o ativo será liberado na célula.
No caso do câncer de mama, por exemplo, pode-se vetorizar o medicamento para agir diretamente na região da mama onde as células cancerígenas estão, sendo possível diminuir os efeitos colaterais do tratamento – e também o custo final do produto.
Novos espaços
Aumentar a velocidade de tratamento, diminuir os efeitos colaterais e reduzir o custo final de produtos são apenas alguns dos benefícios dos estudos realizados pelo grupo da FFCLRP, que teve sua estrutura otimizada e um aumento no número de ambulatórios parceiros.
Em julho deste ano foi inaugurado um ambulatório no Acre que vai trabalhar, basicamente, com câncer de colo de útero, bexiga, próstata e pele. O ambulatório Evandro Chagas, em Belém (PA), caminha para abrir uma nova unidade, e o de Ribeirão Preto (SP) acaba de ser reativado em uma parceria com Faculdade Barão de Mauá. Já o ambulatório de São Paulo funciona por meio de uma parceria com a Unifesp, enquanto que o de Brasília (DF) atua a partir do intermédio de conexões entre a USP e o Hospital Regional da Asa Norte.
O Centro de Nanotecnologia em si conta com duas unidades de 500 m² cada. Em uma delas é realizada a pesquisa básica, de bancada, ou seja, o material é produzido em pequena escala. Na outra, que está em fase final de instalação, o escalonamento possibilitará a produção de material para estudos clínicos e pré-clínicos, facilitando ainda mais a transferência destas tecnologias para parceiros interessados em aplicá-las comercialmente.
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