Hérika Dias / Agência USP de Notícias
A paixão dos brasileiros pelo futebol pode ser grande, mas o número de pessoas que faz do esporte uma atividade física de lazer caiu. De 2006 a 2012, o percentual foi de 9,1% para 7,2%, uma redução de 20% em sete anos. O futebol foi ultrapassado pela musculação/ginástica (aumento de 7,9% para 11,2%) e se tornou a terceira atividade física mais praticada nas horas de folga dos brasileiros. Em primeiro está a caminhada (em torno de 18% entre 2006 e 2012).
As informações constam de um estudo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, baseado nos dados do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas), um inquérito produzido anualmente pelo Ministério da Saúde por meio de entrevistas por telefone com cerca de 54 mil pessoas, a partir dos 18 anos, nas capitais brasileiras e no Distrito Federal.
Os doutorandos Thiago Hérick de Sá e Leandro Martin Totaro Garcia e o pós-doutorando Rafael Moreira Claro analisaram as dados do Vigitel entre 2006 e 2012 para descrever a frequência e os principais tipos de atividade física praticados pelos adultos brasileiros no período de lazer .
De acordo com os pesquisadores, o estudo é descritivo e, portanto, não foram investigadas as possíveis causas da variação dos praticantes de futebol. “Não podemos ser taxativos de que está havendo uma substituição. O fato de o futebol estar caindo e da musculação/ginástica estarem subindo em termos populacionais, não quer dizer que as pessoas estão trocando uma coisa pela outra, pode ser que as pessoas que deixam de jogar futebol não sejam as mesmas que passaram a frequentar mais a academia”, ressalta Thiago Hérick de Sá.
Entretanto, eles formularam algumas hipóteses para explicar a queda na prática de futebol. “No Brasil, jogar futebol sempre foi muito dependente de campos públicos e muitos deles estão em terrenos baldios. Mas esses espaços têm diminuído muito por causa do mercado imobiliário, para a construção de novos prédios, novos empreendimentos, o que se dá tanto em regiões mais centrais como na periferia das cidades”, afirma o pesquisador.
Ele sugere que a diminuição dos praticantes de futebol também esteja ligada à dificuldade em se encontrar tempo e pessoas. “É preciso tempo para se fazer uma prática dessa ou mesmo para se organizar uma partida, porque jogar futebol envolve no mínimo 10 pessoas. A organização dessa atividade toma tempo e hoje vivemos em um contexto social que torna isso um pouco mais difícil.”
Academias
O crescimento dos praticantes de ginástica/musculação – passou de 7,9% em 2006 para 11,2% em 2012 – pode estar relacionado ao aumento da oferta de espaços para a prática, segundo Thiago. “O número de academias tem crescido, mesmo as academias de bairro. Há também iniciativas públicas, governamentais para oferecer esse tipo de espaço. Programas de ginástica dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), também aumentam a oferta desse tipo de atividade.”
Ele também acredita que o crescimento do poder de compra do brasileiro contribuiu para mudança. “A população brasileira teve um aumento no ganho real da sua remuneração nos últimos 10 anos, isso facilita as pessoas pagarem uma academia, por exemplo”.
Atividade física
O estudo mostra que metade dos brasileiros não faz atividades físicas no seu tempo de lazer. A outra metade que pratica alguma atividade física é composta na maioria por homens – 60%, contra 40% de mulheres. Os principais tipos de práticas em 2012 foram caminhada (18,1%), musculação/ginástica (11,2%), futebol (7,2%), corrida (3,1%), bicicleta (2%), hidroginástica (0,9%), natação (0,9%), outros (3,65).
Os pesquisadores chamam a atenção para a falta de diversidade nas atividades físicas de lazer praticadas no Brasil, 78% está baseada na caminhada, ginástica/musculação e futebol. “Isso é o reflexo da falta de uma política nacional de promoção da atividade física e do esporte. É normal que a cultura de alguns países dê mais atenção para determinados tipos de práticas, mas mesmo assim essa proporção no Brasil pareceu exagerada, precisaríamos diversificar, oferecer espaços para outras práticas, como handebol, luta, dança, yoga, etc”, alerta o pesquisador.
O trabalho dos pesquisadores do Nupens foi publicado em julho no International Journal of Public Health.
Mais informações: email [email protected], com Thiago Hérick de Sá
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