Tomo a liberdade de, à primeira vista, dar a impressão de que estou fugindo um pouco da temática geral desse blog. Mesmo assim, sinto-me à vontade porque, afinal de contas, este é também um espaço para considerações sobre educação, uma palavra formidável que, em meio a vários outros significados, admite-se como sinônimo de “bons modos”.
Especialmente durante temporadas de alta voltagem emocional como a que estamos prestes a vivenciar na campanha para as eleições de outubro, é notável a proliferação do uso de adjetivos como “burro”, “idiota”, “imbecil” e “cretino”, entre outros bem mais deselegantes, para fazer referência a quem defende ideias diferentes daquelas em que se acredita.
Eu não consigo parar de pensar que isso é muito, mas muito feio. Não raro, vejo os termos incluídos em textos assinados por professores, o que, na minha opinião (o que, por si só, é temerário, como um certo paradoxo irá deixar claro mais adiante), piora um pouco as coisas. Talvez por ter escolhido esse ofício e por reconhecer o valor que costumam ter as coisas que um professor em quem confiamos nos diz, eu tenha adquirido uma resistência um pouco maior a usar livremente termos como esses em meio a debates de ideias.
Mas a verdade é que sempre proponho a mim mesmo dois questionamentos:
1) A ideia que está sendo exposta propõe alguma espécie de relação com a capacidade cognitiva, em termos mais amplos, de quem a emitiu? Eu não consigo encontrar evidências que deem suporte a essa correlação. Meu entendimento é o de que ninguém pode ser chamado de “burro” ou de “idiota” por ter opinião diferente da minha. E é justamente aí que surge o paradoxo do julgamento da opinião alheia: como essa é, também, somente uma de minhas opiniões, sua manifestação me expõe ao risco de ser chamado de “burro” ou de “idiota” justamente por quem não concorda com ela.
2) Eu conheço a pessoa? Em caso afirmativo, e desde já assumindo que, do contrário, o questionamento não faria sentido, eu diria pessoalmente o mesmo que escrevi? Isso costuma mudar muito as decisões anteriores à publicação.
Pense nisso. E boas reflexões.