Leila Kiyomura / Jornal da USP
Os livros da Editora da USP (Edusp) estarão, em setembro, na Feira Internacional do Livro de Gotemburgo, na Suécia. O evento, a ser realizado entre os dias 25 e 28, é reconhecido como um dos mais importantes programas literários e de negócios para os profissionais do livro na Europa. Neste ano, o foco da programação é o Brasil. Daí a Edusp ser convidada para apresentar, através do seu catálogo, a diversidade cultural brasileira. A pintura de Cândido Portinari, Lasar Segall, Aldo Bonadei e Marcello Grassmann, a origem das modinhas e do samba, a arquitetura das praças e igrejas e a literatura de Clarice Lispector estão entre os destaques.
“A Edusp irá representar o Brasil entre 50 países e, diante dessa visibilidade, selecionamos obras que revelam a nossa cultura e, ao mesmo tempo, a pesquisa desenvolvida na USP”, observa o diretor-presidente da Edusp, Plinio Martins Filho. “Pretendemos destacar também o projeto editorial e gráfico, que é uma referência para o mercado editorial acadêmico.”
A Feira de Gotemburgo recebe, anualmente, 150 mil visitantes, entre eles professores, bibliotecários, agentes literários e outros profissionais do mercado da literatura. “Esta é a primeira vez que um país sul-americano é convidado para ser homenageado no evento”, observa André Maciel, chefe da Divisão de Difusão Cultural do Ministério das Relações Exteriores. “Trata-se, portanto, de uma ação importante para promoção da cultura brasileira no exterior e também de uma oportunidade para adensar o diálogo com universidades suecas.”
Na avaliação de Paulo Vassily Chuc, chefe de gabinete do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores, o evento tem uma importância singular. “Além da ampla repercussão internacional, é um indicador das tendências do Prêmio Nobel, na medida em que a imprensa especializada observa a atenção dispensada a certos escritores pelos membros da Academia Sueca, que costumam comparecer.” Ele destaca que a Feira de Gotemburgo consolida o papel de destaque que o Brasil vem obtendo no cenário literário internacional e lembra as participações pontuais da Edusp na Feira Internacional do Livro de Bogotá, em 2012, e na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, em 2013. “Além disso, pavimenta o caminho para a participação brasileira, também como país homenageado, no Salão do Livro de Paris em 2015. O convite à Edusp surgiu no âmbito da longa cooperação entre a USP e o Itamaraty, que já se mostrou profícua também em eventos como a Feira Internacional de Antropologia no México, a Feira Internacional de Guadalajara e a Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, entre outros”.
Além da ampla repercussão internacional, evento é um indicador das tendências do Prêmio Nobel.
Martins ressalta que a participação da Edusp na Feira Internacional do Livro de Gotemburgo será custeada pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Departamento Cultural do Itamaraty. “Teremos um estande no pavilhão brasileiro que vai apresentar uma programação com palestras e encontros com escritores.”
Arte sem limites
No estande da Edusp, de 15 metros quadrados, os leitores terão oportunidade de perceber que a arte brasileira não tem limites. Nem fronteiras. “Nossos livros de arte surpreendem tanto pelo conteúdo da pesquisa como pelo projeto editorial e gráfico. Dão uma visibilidade para o Brasil atingindo um público formador de opinião”, afirma Martins. Por atuar na divulgação da arte brasileira, a Edusp recebeu, em maio deste ano, o prêmio de Destaque na Cultura da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).
Nossos livros de arte surpreendem tanto pelo conteúdo da pesquisa como pelo projeto editorial e gráfico.
Um dos destaques que a Edusp levará para Gotemburgo é a história do paulista de Brodowski Cândido Portinari (1903-1962), filho de imigrantes italianos, que Elza Ajzenberg aborda no livro Portinari – Três momentos. Nele, a crítica e professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP analisa a obra do artista, que alia arte e engajamento social, buscando a construção de uma nova consciência artística brasileira.
Outro artista também inserido no contexto artístico e histórico do século 20 é apresentado por Lisbeth Rebollo Gonçalves, também professora da ECA. Em Aldo Bonadei – Percursos estéticos, a vida e obra do artista, considerado um dos pioneiros da pesquisa abstrata no País, vão fluindo em uma análise sistematizada. Lisbeth enfatiza a constante preocupação de Bonadei em compreender o processo de criação artística, a percepção da cor e a construção do espaço pictórico.
Na seleção de livros sobre artistas contemporâneos, a Edusp destaca Maria Bonomi – Da gravura à arte pública, organizado por Mayra Laudanna, professora do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP. Dividido em três partes, documenta a produção da artista ítalo-brasileira desde seu início, nos anos de 1950, até os dias atuais. As gravuras, painéis, esculturas e instalações são apresentadas em 420 páginas.
Com Leon Kossovitch, professor de Estética da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a crítica Mayra Laudanna também organizou o livro Marcello Grassmann 1942-1955. A edição, em dois volumes, traz um ensaio dos críticos sobre o percurso do artista, paulista de São Simão, desde quando estudava entalhe e fundição no Instituto Profissional Masculino do Brás até quando voltou de Viena, depois de expor suas xilogravuras. O leitor vai poder acompanhar o artista através do caderno de desenhos a bico de pena feitos com nanquim, extrato de nogueira e outras tintas que ele preparava.
Uma mostra do acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP também vai ser exibida aos visitantes da Feira de Gotemburgo através do livro A Plumária Indígena Brasileira, organizado pela antropóloga Sonia Ferrari Dorta e pela museóloga Marília Xavier Cury. A edição, que recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Produção Editorial, oferece um panorama sobre a beleza da arte plumária dos povos indígenas, com os seus ritos e costumes.
Clarice Lispector
Os leitores interessados terão oportunidade de conhecer Literatura Brasileira – Dos primeiros cronistas aos últimos românticos. A pesquisa de Luiz Roncari, professor de Literatura da FFLCH, ensina a pensar a literatura e o aparato crítico necessário para entrar no universo literário. O livro está dividido em quatro seções, que destacam os períodos clássico, barroco, arcádico e romântico.
Clarice – Uma vida que se conta, de Nádia Battella Gotlib, professora de Literatura Portuguesa e Brasileira da FFLCH, traz a história de uma das mais importantes escritoras do século 20. Clarice Lispector, nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, tem a sua obra fundamentada pela pesquisadora em dados de caráter biográfico. Nádia mergulha no universo da escritora para analisar detalhes que possibilitam uma compreensão maior da essência de sua narrativa.
Outro livro curioso para os que pretendem entender um dos marcos da literatura modernista é Leituras de Macunaíma – Primeira onda (1928-1936), de José de Paula Ramos Júnior, professor da ECA. Trata-se de um estudo sobre a repercussão e a recepção crítica de Macunaíma, de Mário de Andrade, procurando recompor o perfil das polêmicas do momento.
O Livro no Brasil: Sua História – Edição ilustrada, de Laurence Hallewell, é uma reedição revista, atualizada e ampliada do primeiro e mais completo panorama histórico da indústria editorial brasileira. Escrito originalmente em 1975, foi publicado pela primeira vez no Brasil em 1982, e para esta nova edição passou por extensa revisão do autor. Retrata com precisão, clareza e riqueza de dados estatísticos o desenvolvimento das editoras brasileiras e os problemas econômicos, sociais e políticos que enfrentaram para sobreviver. Oferece um relato minucioso das obras e dos autores publicados pelas editoras comerciais e oficiais, além de tabelas, cronogramas e dados comparativos detalhados sobre população, importação, tarifas, preços, salários, exportação, produção de papel, traduções e comércio livreiro. Esta edição foi enriquecida com inúmeras reproduções de capas de livros que marcaram a indústria editorial brasileira.
Igrejas e praças
A Edusp vai levar também a história do Brasil através da arquitetura, religião e música. A cidade de Salvador, a primeira capital do Brasil Colônia e uma das mais visitadas pelos turistas, tem um foco curioso no livro A Talha Ornamental Barroca na Igreja Conventual Franciscana de Salvador, do historiador Mozart Alberto Bonazzi da Costa. Bilíngue e ricamente ilustrado, apresenta um dos mais importantes exemplares do barroco no Brasil, revelando os segredos e analisando os aspectos históricos, estéticos e simbólicos. O autor analisa as características técnicas da talha e estuda detalhadamente a nave central, os púlpitos, a capela–mor e todo o repertório ornamental.
Arquiteturas no Brasil – 1900-1990, de Hugo Segawa, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, propicia uma visão abrangente da arquitetura no século 20, propondo uma reinterpretação das várias vertentes do movimento moderno até a Segunda Guerra. Estende o seu estudo com o panorama do período pós-guerra, destacando o trabalho de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Vilanova Artigas, assim como o trabalho de arquitetos estrangeiros que se radicaram no País, chegando até a atualidade, com a ausência de rumos que caracterizou a chamada década perdida de 1980. Segawa realiza, dessa forma, uma leitura atenta e original das polêmicas, das conquistas e também dos malogros envolvidos na aventura de construir espaços, edifícios e cidades num país em constante formação.
O leitor também terá oportunidade de conhecer as praças brasileiras que valorizam a tropicalidade do País em Praças Brasileiras, de Fábio Robba e Silvio Soares Macedo, professores da FAU. A pesquisa traz a história da formação da praça no Brasil, desde suas origens no período colonial até os dias de hoje, e analisa as características dos projetos paisagísticos em diferentes vertentes de projeto: ecletismo, modernismo e contemporâneo. Ao final, detalha praças das principais cidades do País, fornecendo plantas, mapas e reproduções de fotos que ilustram sua situação atual.
Entre os 50 livros que a Edusp selecionou para marcar presença na Feira Internacional do Livro de Gotemburgo, está ainda o universo poético e criativo da música popular brasileira. No livro Abençoado & Danado do Samba – Um estudo sobre o discurso popular, de Ricardo José Duff Azevedo, o leitor vai observar o samba com o discurso da pessoa, das hierarquias, da religiosidade, do senso comum, da folia e da tradição. E refletir sobre a sua importância social e cultural no cotidiano do brasileiro.
Tags: Comunidade USP, Editora da USP, Edusp, Elza Ajzenberg, Fábio Robba, Feira Internacional do Livro de Gotemburgo, Hugo Segawa, Imprensa, José de Paula Ramos Junior., Lisbeth Rebollo Gonçalves, Luiz Roncari, Maria Bonomi, Marília Xavier Cury, Mayra Laudanna, Nádia Battella Gotlib, Plínio Martins Filho, Silvio Soares Macedo, Sonia Ferrari Dorta, Vilanova Artigas