Da Agência USP de Notícias
Há seis anos, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP, coordenado pela professora Andréa Cândido dos Reis, desenvolve novos materiais capazes de solucionar problemas odontológicos, entre eles, os causados por bactérias. A equipe da FORP estudou e testou uma mistura nanoestruturada de vanadato de prata com potencial bactericida, descoberta pelo pesquisador Raphael Dias Holtz e pelo professor Oswaldo Luiz Alves, do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O produto elaborado com a mistura já apresenta resultados que comprovam sua função antimicrobiana e a resistência aos impactos mecânicos próprios da mastigação e da pressão natural sofrida pelos dentes na boca.
Todos aqueles que usam algum tipo de prótese, aparelho ortodôntico, coroas provisórias ou próteses sobre implantes dentários, podem ter sofrido transtornos transitórios ou mais sérios, envolvendo bactérias e fungos e consequentes problemas bucais, como mau cheiro, periodontite, cárie ou estomatite protética. Para resolver esses problemas, atualmente, os materiais e tratamentos utilizados são, muitas vezes, de custo moderado ou elevado, como terapias medicamentosas e, quase sempre, substituições das próteses e aparelhos.
Segundo a professora Andréa, uma das causas desses problemas reside na incapacidade da maioria dos materiais disponíveis no mercado em promover uma proteção à esses transtornos. Muitas vezes, os materiais utilizados para confecção desses aparelhos, ressalta Andréa, voltados para a restauração da função mastigatória e da estética do paciente, por serem porosos e rugosos, facilitam o depósito e acúmulo de bactérias e fungos pois, “a cavidade bucal é um ambiente propício para a colonização de micro-organismos.”
Com o nanomaterial, que é capaz de inibir bactérias e fungos — dentre eles Candida albicans, Streptococcus mutans, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus —, os pesquisadores trabalharam na reformulação de materiais odontológicos, realizando testes de resistência e ensaios microbiológicos. A pesquisadora explica que o material utilizado na pesquisa é um composto híbrido, sintetizado por uma reação simples e rápida entre o nitrato de prata e o vanadato de amônio e apresenta escala nanométrica.
Aditivo Antimicrobiano
“Ao entrar em contato com o micro-organismo esse material é capaz de alterar sua morfologia e metabolismo, levando à morte da célula”. A utilização do vanadato de prata nanoestruturado decorado com nanopartículas de prata como aditivo antimicrobiano também apresentou sucesso em um estudo realizado pelo grupo do professor Oswaldo Luiz Alves, da Unicamp, que também participa da pesquisa na FORP, em uma tinta à base d’água com potencial aplicação em banheiros, cozinhas e ambientes hospitalares com o objetivo de reduzir o número de infecções hospitalares. Agora o grupo comemora os resultados na odontologia.
O projeto ainda dará muito trabalho aos pesquisadores da FORP até chegar aos pacientes, mas os resultados preliminares já são considerados uma inovação, tanto para a área odontológica quanto para as áreas médicas em geral. Os cientistas acreditam que o novo material tenha grande potencial ainda a ser explorado e traga consigo opções de custo muito menor que as demais soluções hoje apresentadas. “Acredito que o material produzido nos laboratórios da FORP tem vantagens bastante superiores aos disponíveis no mercado.”, assegura a coordenadora.
Até o momento, um artigo com os resultados obtidos está no prelo para publicação pela revista Journal Applied Oral Science (“Development of a novel resin with antimicrobial properties for dental application”); uma dissertação de mestrado da cirurgiã-dentista Denise Tornavoi de Castro, comprovando a efetividade antimicrobiana e mecânica do novo material em próteses, e uma tese de doutorado da cirurgiã-dentista Nathália Ferraz Oliscovicz, usando como tratamento de superfície em componentes de implantes, já foram defendidas na FORP.
Um outro trabalho do grupo comprovou a eficácia na aplicação junto ao cimento utilizado em tratamentos de canais (endodônticos), cujos resultados estão sendo compilados para serem transformados em um artigo científico. A professora Andréa faz questão de ressaltar que nada teria acontecido sem a parceria dos cientistas envolvidos. Hoje, o novo produto que inventaram já está com o registro de patente USP, mas o material inovador só foi possível, garante, pela parceria com pesquisadores de diversas instituições. Também estiveram envolvidos no desenvolvimento do novo produto odontológico Denise Tornavoi de Castro e Mariana Lima da Costa Valente, pós-graduandas da FORP, e Marco Antonio Schiavon, da Universidade Federal de São João Del Rei, em Minas Gerais.
Mais informações: (16) 3315-0477
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