Embora propagandas de escolas particulares prometam sucesso absoluto no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cerca de metade dos alunos da rede privada tiveram um desempenho igual ou abaixo da média na prova em 2012, aponta levantamento da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
Usando dados mais recentes do Ministério da Educação (MEC), o estudo mostra que, de cada 10 alunos das escolas privadas que fizeram a prova, cinco deles atingiram até 560 pontos do exame, que pode valer até 1.000 pontos.
A análise ainda revela que 52% dos estudantes do ensino privado têm resultado equivalente àqueles que vêm de escolas estaduais.
Autor do estudo da USP, Ocimar Alavarse explica que os cálculos foram feitos com os dados da distribuição de notas de alunos, tanto da rede pública quanto da rede privada, em vez de utilizar as médias já divulgadas pelo MEC.
Segundo o levantamento, 98% dos alunos das redes estaduais de todo o Brasil alcançaram até 560 pontos no Enem, sendo que a média foi de 479,4 pontos.
Já entre as escolas particulares, 52% de seus estudantes atingiram até 560 pontos e a média foi um pouco maior: 558,1 pontos.
“A média sempre oculta uma variabilidade dos resultados. Com esses dados, podemos ver que, na verdade, aproximadamente metade das escolas privadas atingiram a pontuação que a maioria das escolas públicas conseguem”, argumenta.
Alavarse avalia que as escolas privadas também estão falhando na preparação dos alunos para o Enem.
Segundo ele, a média de 560 pontos é muito baixa para alcançar as notas de corte do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) nos cursos mais concorridos das universidades.
Na Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, o estudante teve que fazer, no mínimo, 745,66 pontos no Enem, para tentar uma vaga em direito pelo Sisu neste ano.
A baixa média dos alunos do ensino privado no Enem aponta a necessidade de as escolas estabelecerem um foco de aprendizagem com vista à prova, afirma Alavarse.
Ele defende também que as instituições devem investir mais em instrumentos para avaliar o nível de preparação do aluno.
A presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacios, diz não reconhecer a legitimidade do levantamento da USP.
“Esse número não diz nada. Comparar é um ato antieducacional”, alega.
A rejeição em relação ao estudo se dá, principalmente, pelas críticas da professora contra o próprio Enem.
“Escola boa é responder à prova do jeito que o ministro quer ou a escola boa é aquela que pega um menino em dificuldade e o ajuda a evoluir no aprendizado?”, provoca.
Para ela, a prova deveria ser regional. “Uma prova única não dá conta de fazer tudo isso.
O Enem tinha que ser apenas para selecionar alunos para o ensino superior”, defende.
Reflexo Especialistas em educação afirmam que a baixa qualidade da rede de ensino pública acaba se refletindo no sistema privado.
“É um processo de retroalimentação”, explica a professora de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP) Maria Cecília Cortez.
“É um ciclo que começa com a má formação dos professores, que em sua maioria vêm das escolas públicas. Sem condição de passar em universidades renomadas, eles acabam estudando em faculdades privadas”, argumenta.
Para o professor da Faculdade de Educação da USP, a qualidade dos mestres é um fator fundamental para aprendizagem.
“Os alunos refletem os professores”, opina.
Maria Cecília afirma também que dificuldades estrututurais da rede pública, como a ausência recorrente de professores na sala de aula, faz com que se estabeleça um baixo nível de concorrência frente às escolas particulares.
“As escolas públicas não pressionam as privadas a serem melhores. Basta a elas serem um pouquinho melhores”, pontua.