Keite Marques / Assessoria de Comunicação da EESC
O mundo inteiro assistiu, na semana passada, a mais um fato histórico nas atividades aeroespaciais: o módulo Philae, liberado pela a sonda espacial Rosetta após 10 anos em órbita, pousou no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, que se locomovia a uma velocidade de 135 mil km/h.
A missão foi desenvolvida pela Agência Espacial Alemã (DLR, sigla em alemão) e, para orgulho nacional e da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, o único brasileiro que fez parte do projeto da missão, no período de 2009 a 2012, foi o empresário do setor aeroespacial Lucas Fonseca, formado na primeira turma do curso de Engenharia Mecatrônica da EESC, em 2008.
Fonseca foi o único pesquisador não europeu a fazer parte do time que cuidou do código de pouso. “Talvez algum brasileiro tenha trabalhado em algum momento durante os 20 anos de missão. De qualquer maneira, me sinto totalmente lisonjeado de poder contar que fiz parte dela. O ambiente de trabalho, os colegas – que eram extremamente apaixonados pelo que exerciam –, além da magnitude da missão, tornaram essa experiência algo único na minha vida”, destacou o engenheiro.
Para o atual coordenador do curso de Engenharia Mecatrônica da EESC, professor Luiz Augusto Martins Gonçalves, ligado ao Departamento de Engenharia Mecânica da Escola, é muito gratificante a participação do ex-aluno nessa missão, pois mostra a qualidade do trabalho que a EESC vem desempenhando e a excelente formação acadêmica que proporciona aos alunos. “Nossos formandos são reconhecidos nacionalmente e internacionalmente pela capacidade e liderança. Isso confirma o cumprimento da nossa meta em formar profissionais de qualidade e o resultado do nosso trabalho”, afirmou.
Como um dos responsáveis na DLR por antecipar possíveis cenários que o módulo de pouso Philae poderia enfrentar durante sua descida, Fonseca trabalhou no desenvolvimento de modelos matemáticos que conseguiam predizer a reação do módulo perante as perturbações encontradas no ambiente espacial. O simulador foi a principal ocupação do engenheiro durante sua estadia de três anos na Agência, mas também exerceu outras atividades durante esse tempo. “O time era relativamente pequeno, então acabávamos desenvolvendo diversas atividades em paralelo”.
De acordo com o site da Agência Espacial Europeia (ESA, sigla em inglês), que engloba a DLR, a sonda Rosetta foi lançada no dia 2 de março de 2004 e viajou 6,4 bilhões de quilômetros através do Sistema Solar antes de chegar ao cometa, em 6 de agosto de 2014.
Após o pouso do módulo, suas atividades primárias abrangem uma completa vista panorâmica do local – incluindo uma seção em 3D –, imagens de alta resolução e o exame da composição dos materiais de superfície do cometa, além de recolher amostras para um laboratório a fim de analisá-las. Também serão medidas características elétricas e mecânicas da superfície, e sinais de rádio de baixa frequência serão transmitidos entre o Philae e a sonda através do núcleo do cometa para investigar sua a estrutura interna.
Finalizado o projeto, Fonseca ainda participou de outros trabalhos desenvolvidos pela ESA. “Tive chance de participar, antes da missão Rosetta, de outro projeto muito interessante. Trabalhei como consultor para a ESA em uma proposta de readequação do módulo de transporte de cargas da estação espacial internacional, o ATV. Além disso, enquanto ainda estava na DLR, tive uma participação muito rápida na missão Hayabusa II, uma sonda japonesa que pousará e retornará com material de um asteroide. Após meu retorno ao Brasil, não tive mais contato com projetos europeus”, comentou o engenheiro.
Atualmente Fonseca mantém vínculo com a Escola como participante de um grupo chamado Zenith, que tem como intuito a propagação da cultura espacial. “Tentamos promover missões espaciais educacionais, muito em voga em diversas universidades pelo mundo”, explicou Fonseca.
Trajetória
Durante a graduação Fonseca participou ativamente na fundação e coordenação do grupo de futebol de robôs, que na época se chamava Grupo de Estudos Avançados em Robótica (GEAR). “Na época não existia nenhum grupo relacionado com o tema aeroespacial, mas o GEAR foi uma atividade extracurricular importantíssima na minha formação e credito parte das minhas oportunidades ao aprendizado adquirido naquela época”, destacou. Atualmente o GEAR fundiu-se ao grupo USP Droids, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, formando o projeto de pesquisa e extensão Warthog Robotics.
Questionado sobre o que o motivou a escolher a área aeroespacial para atuar profissionalmente, o engenheiro respondeu entusiasmado. “A ideia de trabalhar com o incrível e com o desconhecido sempre foi um sonho de vida. Inclusive enquanto cursava a EESC, enviei diversas cartas para a NASA pedindo estágio, mas não obtive nenhuma oportunidade na época. Acabei me formando e indo trabalhar na indústria, mas me senti frustrado em determinado momento de não ir buscar esse sonho. Larguei meu trabalho e fui pra França fazer um mestrado em Engenharia Espacial, e essa foi a porta de entrada para esse trabalho na agência”, contou.
Tags: Agência Espacial Alemã., Comunidade USP, EESC, Engenharia espacial, Engenharia mecatrônica, Escola de Engenharia de São Carlos, Imprensa, Lucas Fonseca, Philae, São Carlos, Sonda espacial Rosetta, Zenith