Uma das missões da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP é ser um canal aberto de interlocução da comunidade acadêmica com a sociedade. Dessa forma, a USP encontra uma forma de oferecer um retorno a todos que de alguma forma dedicam recursos para a produção de conhecimento científico. Nesse sentido, um projeto ligado à PRCEU vem se mobilizando para romper com a invisibilidade que as comunidades indígenas sofrem atualmente, especialmente em São Paulo.
Trata-se do projeto Rede de Atenção à Pessoa Indígena coordenado pelo professor do Departamento de Psicologia Experimental (PSE) do Instituto de Psicologia (IP) da USP, Danilo Silva Guimarães, que faz questão de ressaltar que o projeto é de extensão, e não de pesquisa. “As pessoas das comunidades têm um certo incômodo com aqueles que vão até elas, pesquisam, coletam dados, mas depois não dão um retorno em relação ao conhecimento que foi construído. Portanto, ao invés de propor um projeto de pesquisa, propusemos um projeto de extensão que está atualmente no seu terceiro ano e tem duas bolsas do programa Aprender com Cultura e Extensão, da PRCEU”, afirma o professor.
As pessoas das comunidades têm um certo incômodo com aqueles que vão até elas, pesquisam, coletam dados, mas depois não dão um retorno em relação ao conhecimento que foi construído.
Segundo Guimarães, a ideia surgiu a partir de sua pesquisa de doutorado. Ele conta que esta foi um saída para tentar desdobrar aspectos da pesquisa teórica a partir das situações da vida concreta das pessoas, mas também visou preencher uma lacuna no curso de graduação de Psicologia. “Existe uma deficiência na formação dos alunos, que não têm contato com as questões indígenas durante a graduação. Só a partir de 2004 que o próprio Conselho Federal e o Conselho Regional de Psicologia começaram a se abrir para as demandas indígenas. Trazer os indígenas pra cá, de certo modo, nos ajuda a formar alunos com a possibilidade de refletir sobre essas questões, como eles não teriam de outra forma”, conta Guimarães.
Fórum Indígena
O projeto Rede de Atenção à Pessoa Indígena organizou, no dia 9 de outubro, a terceira edição do fórum A Presença Indígena em São Paulo. O encontro debateu o tema “Saúde e Educação Indígena: oralidade, cultura e políticas públicas” e contou com a participação da assistente social Selma Lenice Gomes, da comunidade indígena Pancararu, e do educador Pedro Luis Macena, do Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI) da aldeia Taekoa Pyau. Na fala dos dois palestrantes, a necessidade do acesso à educação e à saúde diferenciada foi ressaltada, bem como as dificuldades enfrentadas pelo indígenas de terem seus direitos respeitados e suas demandas atendidas.
Selma ressaltou que a responsabilidade da saúde indígena já foi transferida entre órgãos públicos várias vezes, o que gerou uma defasagem no atendimento e um retrocesso nos direitos conquistados. “Ao longo do processo histórico já foram vários os responsáveis. Antes era a Funai [Fundação Nacional do Índio] e depois passou a ser a Funasa [Fundação Nacional de Saúde – órgão do Ministério da Saúde]. Devido a vários problemas, as lideranças indígenas conseguiram que a Secretaria Especial de Saúde Indígena [Sesai] fosse criada, mas o que era para melhorar, acabou piorando. Antes alguns direitos indígenas ainda eram respeitados, agora não mais”, relatou a assistente social.
Pedro Macena, por sua vez, ressaltou a luta pela conquista do espaço onde aulas são ministradas para as crianças de zero a seis anos de sua tribo. “A conquista do nosso espaço foi resultado de uma longa luta e uma grande vitória. No Ceci quem faz o nosso plano pedagógico somos nós mesmos. Lá, educamos sem necessidade de avaliação, porque acreditamos que as crianças não precisam ser avaliadas para aprender, elas vão aprendendo ao longo de toda a vida até terem filhos e repassarem o conhecimento para eles”, contou Macena, que lembrou, porém, que ao passar para as outras escolas do estado, as crianças sofrem muito com a necessidade de adequação às divisões em salas e faixa etária.
No Ceci quem faz o nosso plano pedagógico somos nós mesmos. Lá, educamos sem necessidade de avaliação, porque acreditamos que as crianças não precisam ser avaliadas para aprender, elas vão aprendendo ao longo de toda a vida.
Além da discussão guiada, o evento também contou com uma feira de artesanato com objetos e instrumentos produzidos pelos próprios indígenas e abriu espaço para que outros índios presentes na plateia manifestassem falas que elucidaram sua cultura, problemas e desafios em meio à maior cidade brasileira. As duas primeiras edições do fórum já abordaram os temas da “Vivência, identidades e lutas indígenas num contexto urbano” e “As perspectivas de futuro para os indígenas em São Paulo”. A quarta edição já está programada para o dia 13 de novembro, no auditório Carolina Bori, Bloco G, do IP.
Mais informações: email [email protected]
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