Depois de usar a arte para gerar cidadania em comunidades carentes do Rio de Janeiro, o porto-alegrense Marcelo Andriotti, 35 anos, viajou a Nova York (EUA) para apresentar suas ideias e conhecer o que está sendo feito em outras dezenas de países em busca da promoção da paz e da cooperação.
Radicado na capital carioca desde 1999, Andriotti foi um dos cem jovens líderes selecionados ao redor do mundo para o workshop UNAOC — EF Summer School, uma parceria da Education First com a Aliança das Civilizações das Nações Unidas. O evento, iniciado no domingo passado, terá uma semana de debates e seminários sobre desafios globais relacionados ao desenvolvimento social e às diversidades cultural, racial e religiosa.
Coordenador da ONG Favela Mundo, que já atendeu mais de 500 crianças e jovens desde a fundação, em 2010, Andriotti diz que a troca de experiências começou antes mesmo da viagem:
— Semanas antes, já conversava bastante com uma representante da Austrália, um rapaz do Egito, além de outros da Espanha, da Suécia, do Peru, da Venezuela e da África do Sul. Falamos das realidades e das culturas de cada país, abordando assuntos raciais e de religião.
Mesmo que o Brasil seja, ao menos aparentemente, um ambiente agregador, questões étnicas e religiosas podem se tornar motivos de segregação, verificados em maior ou menor clareza, em comparação a outros países.
— O encontro será mais para levantarmos semelhanças dentro das diferenças — explica Andriotti.
Quem é
Bacharel em Artes Cênicas, pela UFRGS, e em Turismo, pela PUCRS, Andriotti também se licenciou em Artes Cênicas pela UniRio. Há cerca de 14 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para trabalhar como ator, pois, relembra, o mercado carioca oferecia mais oportunidades. Integrou, em 2012, o elenco da Cia Circense Up Leon, da Suécia.
Além dos palcos, trabalha como arte-educador, produtor e caracterizador. Representou o Brasil, como convidado, em eventos culturais e pedagógicos, apresentando o Favela Mundo em Cuba e no México.
O Favela Mundo
Criada em 2010, em Vargem Grande, no Rio de Janeiro, a ONG Favela Mundo oferece, gratuitamente, atividades artísticas, como aulas de teatro, violão, dança afro, de salão e de rua e maquiagem, para estudantes entre seis anos e 18 anos, além de cursos de capacitação profissional para jovens a partir dos 16 anos.
Em agosto, a ONG deu início a uma parceria com a Brigham Young University, de Utah (EUA). No programa Favela Hope, voluntários americanos ministram aulas de inglês para jovens de 16 a 24 anos. Segundo Andriotti, a ONG já beneficiou 506 crianças de 42 comunidades diferentes do Rio de Janeiro.
O workshop em Nova York
A United Nations Alliance of Civilizations (UNAOC) selecionou Andriotti baseada em seu trabalho na Favela Mundo. Na sede das Nações Unidas, em Nova York, ele participa, com outros jovens que lideram projetos de transformação social, de seminários, palestras e encontros sobre discriminação racial, religiosa e social, igualdade, segregação e extremismos.
— A arte trata de respeito e diversidade. Embora existam problemas distintos entre os países, nossos trabalhos buscam a mesma coisa. Vamos elaborar um documento com propostas para conciliar diferenças — diz Andriotti.