Em 2003, Acrelândia era um dos municípios com maior transmissão de malária no Acre. Com o propósito de dar suporte em questões laboratoriais, de estudo e de diagnóstico de doenças parasitárias, o professor Marcelo Urbano Ferreira, interessado em estudar malária em campo, seguiu para a cidade em um estudo de saúde infantil coordenado pelo professor Pascoal Torres, da Universidade Federal do Acre (UFAC), outrora aluno do professor Ferreira.
Ferreira é professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e coordenador do que se tornou o Laboratório de Parasitologia Experimental e Aplicada, que desenvolve três linhas de pesquisa relativas a malária. A primeira, na área de epidemiologia; a segunda, voltada para imunidade adquirida em malária, que busca entender porque alguns indivíduos não ficam imunes mesmo após terem a doença; e, por fim, a terceira linha de pesquisa, voltada para genética de populações dos parasitas da malária, pesquisando padrões de diversidade. A característica comum das três linhas é a dependência de material colhido em campo.
As atividades do Laboratório acontecem em Acrelândia e também em Assis Brasil, cidade na fronteira com o Peru que, isolada, de repente se viu às margens de uma rodovia internacional que dá acesso ao Pacífico. Os estudos se concentram, então, nos assentamentos em torno da cidade, locais em que a malária também é frequente. Paralelamente a isso, uma equipe da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP deu continuidade aos estudos em saúde infantil.
A estrutura do laboratório de campo em Acrelândia, entretanto, está sendo transferida para o Laboratório de Cruzeiro do Sul, uma cidade próxima à fronteira com o Peru. Nas palavras do professor, “hoje, Acrelândia não é mais a cidade com o maior número de casos de malária, o que é motivo de orgulho para nós. A malária está acabando em resposta a uma série de intervenções e esse é o principal motivo de estarmos saindo de lá.”
Cruzeiro do Sul
Para Ferreira, o laboratório em Cruzeiro do Sul tem a vantagem de estar situado em um campus da UFAC, ou seja, é um laboratório conjunto das duas universidades. Desta forma, deixa de ser imprescindível a presença de professores da USP para que ele funcione – em Acrelândia, por exemplo, não havia uma equipe fixa, mas equipes que iam e voltavam.
Em Cruzeiro do Sul, atua o professor Cláudio Marino, do ICB, que já trabalhara nos assentamentos pesquisando malária gestacional, tanto em modelos experimentais quanto em infecção humana e seus impactos na gestação. Devido à presença de dois tipos de malária, a região se mostra interessante para estudos clínicos da doença. No local também são desenvolvidos, junto a outras três equipes, um trabalho de tratamento de malária, um ensaio clínico da eficácia de combinação de drogas antimalária e estudos outros sobre a doença.
Desse conjunto de pesquisas se optou por reunir os quatro grupos que trabalhavam ali e montar um laboratório único. O professor da UFAC Rodrigo de Souza, aluno de doutorado do professor Marino, foi responsável por conseguir, junto à UFAC, o espaço para o laboratório voltado para doenças infecciosas, em especial à malária. A FSP também está começando um estudo de nutrição e saúde que vai desde as gestantes ate os primeiros dois anos de vida das crianças em Cruzeiro do Sul.
Indo além da pesquisa
O trabalho em campo acabou possibilitando outras atividades além da pesquisa estrita, como o tratamento à população, a assistência direta, bem como atividades de extensão, em especial executadas por estudantes que fazem estágio no local.
Um exemplo são as orientações técnico-científicas, como quando há surtos de dengue ou de leishmaniose. Quando os trabalhos se iniciaram em Acrelândia, o tipo 3 do vírus da dengue estava chegando à cidade, e, neste ano, Cruzeiro do Sul vivencia uma grande epidemia devido à chegada da doença. As equipes participam, nesses casos, inclusive, disponibilizando testes de diagnóstico rápido.
Especificamente em relação à malária, além do diagnóstico, que já é automaticamente feito em todas as pessoas das quais são colhidas amostras, o laboratório orienta medidas de controle e disponibiliza testes de diagnóstico rápido.
Além do Laboratório de Parasitologia Experimental e Aplicada, o Departamento de Parasitologia do ICB possui, ainda, mais dois laboratórios de campo. Coordenado pela professora Margareth Capurro, o Laboratório de Mosquitos Geneticamente Modificados tem sua área de atuação na cidade de Juazeiro, na Bahia, e surgiu no momento em que as pesquisas exigiam a produção em massa de mosquitos para serem testadas novas tecnologias. E em Rondônia, está localizado o terceiro laboratório de campo do Instituto, o Centro Avançado de Pesquisa em Monte Negro, cujo responsável é o professor Luís Marcelo Aranha Camargo, residente na região, que desenvolve pesquisa em torno de epidemiologia e controle de zoonoses parasitárias, epidemiologia das ricketsioses humanas e seus vetores.
Mais informações: (11) 3091-7746, email [email protected]
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