Com a proximidade das eleições, institutos de pesquisa dedicam-se a avaliar a opinião pública, estimando as chances de cada candidato e as mudanças na escolha dos eleitores durante a campanha política. Com a criação de um novo laboratório na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, alunos do curso de Ciências Sociais têm a oportunidade de entender na prática como são realizadas as pesquisas de opinião pública.
Essa é apenas uma das possibilidades viabilizadas pelo Laboratório de Métodos de Pesquisa nas Ciências Sociais, iniciativa dos departamentos de Ciência Política e de Sociologia da FFLCH, financiada com recursos do programa Pró-Inovação no Ensino Prático de Graduação (Pró-Inovalab), da Pró-Reitoria de Graduação da USP.
Durante o curso, os alunos de Ciências Sociais cursam três disciplinas de métodos e técnicas de pesquisa, que envolvem conhecimentos de matemática e estatística para analisar dados empíricos da área. “Até então, não havia salas com computadores para essas aulas, que são muito importantes para a formação deles”, relata a professora Lorena Barberia, que ministra a disciplina de Métodos e Técnicas de Pesquisa em Ciência Política.
Ela conta que agora é possível trabalhar com os alunos durante as aulas, detectando melhor as dificuldades – antes, os alunos tinham que fazer os exercícios em casa para então discuti-los em sala de aula. A professora acrescenta que a ideia não é focar no domínio de softwares, mas nos fundamentos necessários para construir bancos de dados corretamente e transpor os dados para os softwares – isto é, que os alunos possam realizar análises estatísticas válidas entendendo os alcances e limites das técnicas quantitativas de pesquisa.
Novas formas de aprender e ensinar
A proposta do laboratório é colocar em prática um outro modelo de aprendizado, diferente da clássica “aula-seminário”. A metodologia activity‐based learning (aprendizado baseado em atividades), adotada pela professora Lorena, busca maior envolvimento do aluno, que assume um papel ativo no processo de aprendizagem. “O aluno precisa se preparar muito melhor antes da aula e chegar pronto para resolver problemas durante a aula. Assim, podemos detectar melhor suas dificuldades na compreensão de conceitos e no domínio de técnicas”, afirma a professora. “Não adianta dar a mesma aula que daria sem o laboratório, é preciso repensar o tipo de aula”, analisa.
O mestrando em Ciência Política Samuel Ralize de Godoy, que é um dos monitores da disciplina, cita um exemplo de exercício proposto aos alunos: “se em uma determinada cidade com 10 mil habitantes e média de rendimento de 5 mil reais chega um novo habitante que ganha 1 milhão de reais por mês, qual é a melhor medida para avaliar a renda da cidade? Os alunos selecionam a resposta pelo computador. É interessante observar que, em uma primeira experiência, as respostas podem ser muito variadas, e com isso sabemos que eles estão perdidos, inseguros”, conta. Após um tempo para discussão entre os alunos, é feita uma segunda votação, e os resultados acabam mais orientados para a resposta correta.
Segundo o também mestrando em Ciência Política e monitor da disciplina, Radamés Marques, o trabalho em equipe tem refletido de modo positivo na qualidade das respostas das listas de exercício. “Certos conceitos são difíceis de aplicar, e quando nós jogamos questões e deixamos os alunos conversarem durante a aula, eles absorvem o conteúdo da disciplina muito melhor”, explica.
O formato das aulas, no início, causa desconforto em alguns alunos, pela diferença em relação às outras aulas da graduação, mas as avaliações têm sido positivas e, inclusive, muitos relatam o encorajamento à iniciação científica após cursar a disciplina. “Estamos buscando formar alunos mais críticos, capazes de elaborar suas próprias pesquisas, suas próprias perguntas, e não apenas um aluno que memoriza e replica um exercício”, afirma a professora Lorena.
Laboratório de ideias
A experiência do Laboratório de Métodos de Pesquisa nas Ciências Sociais, que está em seu segundo ano de atividade, tem sido objeto de avaliação periódica pelos monitores da disciplina e pela professora Lorena Barberia. O grupo se reúne a cada duas semanas para discutir o resultado das aulas, que são gravadas para posterior avaliação.
“Estamos produzindo artigos, apresentando trabalhos em congressos e procurando aprimorar nossos métodos”, afirma Lorena. Segundo a professora, a ideia é que outras disciplinas também incorporem esses métodos. “Estamos dialogando também com docentes de outras universidades para compartilhar nossa experiência. Nossos esforços são para abrir uma discussão mais aprofundada sobre este tipo de experiência e melhorar o ensino na área”.
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