Nas artes e na filosofia, ao contrário do que acontece, por exemplo, nas áreas tecnológicas ou da saúde, os livros não ficam desatualizados e, assim, nunca diminuem sua importância. Inspirados na tradição do livro e buscando integrar a pesquisa com a performance musical, o Núcleo de Pesquisa em Ciências da Performance em Música (NAP-CIPEM) deu início à “Coleção USP de Música”, com a edição de livros sempre com um CD anexo, apresentando estudos teóricos acompanhados de gravações musicais.
Este é o principal projeto em produção do núcleo, sediado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. “A ideia é poder dar um bom retorno à sociedade. O livro-CD oferece muito mais espaço para informações do que um artigo científico isolado. E a gravação é um resultado artístico importante, afinal, espera-se que um departamento de música, além da pesquisa, também produza música”, afirma o coordenador do NAP, o maestro Rubens Russomanno Ricciardi.
Um dos livros-CD que deve ser lançado em breve pelo núcleo relata uma pesquisa realizada recentemente na Alemanha, que investigou o “Anexo Musical” do livro Viagem no Brasil, dos naturalistas bávaros Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius. Até então não se sabia quem havia elaborado as partituras das canções presentes no Anexo. A busca nas fontes primárias levou o grupo à descoberta de que a autoria do trabalho era do compositor bávaro Theodor Lachner. As partituras do documento, que contém um lundu, canções populares brasileiras e melodias indígenas, foram gravadas no estúdio do NAP, e estarão no CD que acompanha o estudo histórico empreendido pelos pesquisadores.
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Edição e difusão de partituras
Atualmente, a edição de partituras é feita por meio de softwares, o que torna a atividade mais rápida e com melhor visualização. No entanto, até o final do século 20, os compositores e copistas escreviam as partituras à mão, de forma que o acesso a muitas delas estava dificultado. Há, por exemplo, obras incompletas, das quais se tem a partitura apenas de alguns instrumentos, como no caso do período colonial e do século 19 no Brasil. Também há situações em que as partituras estão espalhadas em vários arquivos e copiadas por diversas pessoas. “Algumas obras chegam a ter trinta copistas, e nem sempre as partes são coerentes entre si”, conta o professor.
Daí a importância chamada edição crítica de partituras, um trabalho de revisão musicológica que busca reconstituir, da maneira mais fiel possível, as intenções originais do compositor. Os pesquisadores do NAP-CIPEM desenvolvem atualmente o Serviço de Edição e Divulgação de Partituras, que visa tornar essas edições críticas, voltadas à performance musical, disponíveis para acesso e download pela internet. Algumas delas já podem ser consultadas no site no núcleo. O Serviço abarca composições antigas e contemporâneas e também de autoria dos próprios compositores atrelados ao NAP.
“Este projeto tem um caráter revolucionário, torna as obras amplamente acessíveis e de forma gratuita para o mundo inteiro”, afirma Ricciardi. O acesso a estes repertórios amplia sua divulgação não apenas para execução, como para uso acadêmico e em pesquisas.
Também atrelado ao Núcleo de Pesquisa em Ciências da Performance em Música se encontra o Centro de Memória Musical da FFCLRP. Criado com o apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP, o Centro reúne acervos de músicos e corporações de Ribeirão Preto e região e deve, em breve, ser aberto ao público.
Sons para a comunidade
Rubens Ricciardi é também diretor artístico da USP-Filarmônica. Vinculada ao NAP-CIPEM, a orquestra viabiliza uma forte integração de ensino, pesquisa e extensão. “Tudo é muito articulado. Os músicos são alunos de graduação, bolsistas. Uma das obras do repertório, por exemplo, a Abertura em Ré maior (composta por volta de 1815), é do compositor João de Deus de Castro Lobo [Vila Rica, 1794 – Mariana, 1832]. Consultamos os manuscritos do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG), e elaboramos uma edição crítica. A USP-Filarmônica executou a obra em diversos concertos”, relata o maestro.
Além da USP-Filarmônica, há outros outros grupos ligados ao núcleo, como o Ensemble Mentemanuque, o Duo Corvisier, Quarteto LaCorde e o Duo In Tempore. “Temos uma relação muito forte com a extensão, sendo talvez um dos NAPs que trabalha mais diretamente com a comunidade”, afirma Ricciardi. Entre os projetos de extensão estão também eventos como o Festival Música Nova “Gilberto Mendes”, fundado por Gilberto Mendes em 1962, e, que desde 2012, tem a USP em Ribeirão Preto como sede, numa parceria com o SESC São Paulo.
Integram o NAP-CIPEM, além do coordenador Rubens Russomano Ricciardi, o vice-coordenador Gustavo Costa, e os professores do Departamento de Música da FFCLRP Fátima Corvisier, Fernando Corvisier, Marcos Câmara de Castro, Silvia Cabrera Berg, Eliana Sulpício, Maria Yuka de Almeida Prado e Simone Gorete Machado. O grupo conta ainda com o apoio dos funcionários José Gustavo Julião de Camargo (orientador de estruturação musical) e Cristiano Henrique Ferrari Prado (técnico de som).
Mais informações: site http://sites.ffclrp.usp.br/napcipem, email [email protected]
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