Senhoras e senhores, o mais tradicional concurso vestibular do estado do Rio Grande do Sul está com os dias contados. Estamos diante do início da nacionalização das vagas da UFRGS, replicando, silenciosamente e em suaves etapas, o processo análogo da UFCSPA deflagrado em 2009 – cujo resultado mais amplamente divulgado revela que gaúchos vêm representando cerca de 30% dos candidatos aprovados ao curso de Medicina, fato revelado ainda em 2010 neste mesmo blog.
Uma notícia publicada hoje na edição online de Zero Hora alerta os leitores com relação à iminente análise, por parte da comissão de graduação (Comgrad) da UFRGS, de uma proposta segundo a qual 30% de seu processo seletivo passariam, já em 2014, a ser disponibilizadas por intermédio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU). O SiSU vem sendo usado desde 2009 para ingresso em um grande número de instituições federais de Ensino Superior, classificando os alunos através das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Eu mesmo já havia alertado os leitores, no último mês de abril, quanto à possibilidade de incorporação de mudanças ainda em 2014.
Quem participa do universo de cursos preparatórios e acompanha as decisões do Ministério da Educação, reconhecidamente pautadas por intenso viés ideológico, sabe, há algum tempo, que a extinção do Vestibular da UFRGS pode até não ser iminente, mas é inevitável. Não chegam a surpreender, portanto, declarações como as atribuídas ao pró-reitor de graduação da UFRGS, Sérgio Franco, ao tentar minimizar o impacto da adoção do Enem no processo seletivo de nossa principal universidade. Conforme a reportagem publicada em Zero Hora, “fizemos uma correlação e verificamos que 85% dos aprovados no vestibular passado estariam no listão caso o Enem fosse o único critério de seleção.“
Entretanto, é importante deixar claro que afirmações como essa são, evidentemente, mentirosas.
Uma correlação (termo cujo significado estatístico vou me abster de definir para não tornar a declaração ainda mais frágil) conforme a sugerida pelo pró-reitor só faria sentido se considerássemos, apenas, os candidatos que, efetivamente, participaram do último concurso Vestibular da UFRGS. O que ele ignora, porém, é o fato de que a reserva de 30% das vagas da UFRGS via SiSU as torna imediatamente disponíveis para o universo de participantes do Enem – que acumulou mais de 7 milhões de inscrições para a edição de outubro próximo.
Seria muita ingenuidade pressupor que os interessados nessas vagas seriam tão somente os cerca de 40 mil inscritos no Vestibular da UFRGS. Descartada essa hipótese, só nos resta acreditar em má fé, o que não seria surpreendente em se tratando de algo vinculado ao Enem e aos nebulosos mecanismos que vêm sendo colocados em prática pelo Governo Federal para impor sua adoção universal.
O pior ainda está por vir. Quem viver, verá.