Espaço de cultura e convivência, e também de conflitos e interesses diversos, a cidade é hoje palco de fenômenos urbanos distintos e diferenciados, e compreendê-los exige um aporte teórico que extrapola a arquitetura e o urbanismo. A partir desta percepção e buscando tensionar os limites disciplinares, estudiosos do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU), em São Carlos, e do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), ambos da USP, uniram-se a pesquisadores de outras áreas para formar o Núcleo de Pesquisa em Urbanização e Mundialização: novos processos de produção do espaço urbano, o NAPUrb.
O professor Manoel Rodrigues Alves, coordenador do NAPUrb, destaca que “o objetivo do núcleo pode ser sintetizado na ideia de que a confluência entre os campos disciplinares da arquitetura e urbanismo, geografia, sociologia, antropologia e filosofia, permitem a construção de uma análise mais profunda do fenômeno urbano contemporâneo em suas escalas, níveis e dimensões”. Nesse contexto, o Núcleo procura analisar as transformações que se constatam nas cidades contemporâneas, em particular São Paulo e cidades brasileiras, objetivando a compreensão do papel do espaço na acumulação, dominada pela financeirização, e a orientação das políticas públicas neste horizonte.
A produção do espaço urbano assume importância central no mundo moderno do ponto de vista da acumulação, principalmente sobre as formas de empresariamento da cidade, explica o professor. Assim, a pesquisa orienta-se no desvendamento do mundo a partir da análise de fenômenos urbanos, enxergando não só as tendências mundiais, mas também as singularidades de cada local. “Fundamentalmente, discutimos a produção do espaço urbano contemporâneo numa postura crítica”, explica o coordenador no NAPUrb. “Nossa base de reflexão é absolutamente contraposta à tendência atual, isto é, aos termos em que o neoliberalismo promove a produção do espaço urbano, por exemplo, em relação a processos de exclusão socioespacial ou de sectarização”, completa.
O grupo se organiza em torno de três grandes temáticas: a produção contraditória do espaço urbano; novas formas de consumo e espaço público contemporâneo; e empresariamento da produção da cidade. Desses subgrupos originam-se diversos temas, desenvolvidos por pesquisadores do IAU, da FFLCH, da FAU, da Unesp, além de colegas de outros países, como Espanha e Argentina.
Um núcleo em consolidação
O NAPUrb foi criado no final de 2012. O coordenador do núcleo conta que, no primeiro ano de atividade, o trabalho foi centrado no alinhamento entre os membros. “Um determinado conceito, por exemplo a noção de lugar ou território, pode ter entendimento distinto na geografia e na arquitetura”, explica. Nesse processo de construção, foram organizados diversos encontros e atividades para identificação do grupo e o estabelecimento do diálogo entre as áreas.
Em novembro de 2013 realizou-se em Sevilha, na Espanha, o Congresso “Processos Extremos na Constituição da Cidade: da crise à emergência nos espaços mundializados”. Um ano depois, reunindo pesquisadores no NAPUrb e convidados para debater a produção da cidade atual, o Núcleo realizou, em São Carlos, o Colóquio “Paradoxos do Espaço Urbano Contemporâneo”.
As atividades do colóquio envolveram, além das mesas de discussão, a proposição de questionamentos aos participantes de fora do NAP, na forma de um painel no qual profissionais e pesquisadores expuseram, cada um de acordo com sua área, a compreensão sobre a produção da cidade hoje, a visão sobre a cidade no futuro e a percepção de uma crise urbana. E para Manoel Rodrigues Alves, sem dúvida, esse momento de questionamento existe e envolve diversos fenômenos, sobre os quais o grupo se debruça.
Cidade em transformação
Fenômenos como os os megaempreendimentos, intervenções urbanas, os “parklets” e programas de habitação social ajudam a entender o que caracteriza a produção da cidade hoje. Os estudos do NAPUrb, assim, envolvem o trabalho em campo, a pesquisa e coleta de dados em órgãos públicos e privados, o cruzamento de indicadores socioeconômicos e mapeamentos diversos. Alves explica que, ainda que perpassem os aspectos técnicos, a essência do trabalho é interpretativa, de reflexão, que pode, gerar novos conhecimentos sobre as transformações urbanas.
“Acreditamos que forçando esse diálogo entre distintos campos disciplinares podemos obter uma abordagem distinta, não necessariamente nova, mas que cria a possibilidade de uma análise teórica inovadora”, afirma Alves.
Além de Manoel Rodrigues Alves, coordenador do grupo, integram o NAPUrb, dentre outros, os pesquisadores, Cibele Saliba Rizek, Ana Fani Carlos, Vera Pallamin, Glória Alves, Isabel Alvarez, Cesar Simoni, Silvana Pintaudi, Carlos Tapia e Julio Arroyo.
Mais informações: site http://www.iau.usp.br/pesquisa/grupos/napurb/, email [email protected]
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