Proposto em 2012, e ativo desde 2013, o Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) em Etimologia e História da Língua Portuguesa (NEHiLP), ligado à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, tem uma missão ambiciosa: capitanear a construção do primeiro dicionário etimológico da língua portuguesa com metodologia científica.
Se para Fernando Pessoa, o português era sua pátria, para os nove países que adotam o idioma como oficial, a afirmação poética também é uma verdade. Com origens no século 12, o português evoluiu agregando diferentes sons e sentidos a cada uma de suas palavras através do tempo e das distâncias. É papel da etimologia estudar a história e origem das palavras, assim como a explicação de seus significados por meio da análise dos elementos que as constituem.
À frente do Núcleo desde sua criação, o professor Mario Eduardo Viaro, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH, é responsável por coordenar um grande grupo de pesquisadores que não estão apenas ligados aos departamentos de Letras, como também a outras faculdades dentro e fora da USP. “Nossa abordagem é histórica”, explica ele, “mas nosso núcleo é interinstitucional. Temos pesquisadores da EACH [Escola de Artes, Ciências e Humanidades] e até mesmo do Museu de Zoologia. Um dos nossos projetos principais é um programa criado pelos especialistas do IME [Instituto de Matemática e Estatística]“.
Especialistas em história antiga e moderna, em estruturas linguísticas e em teorias de reconstrução linguística são alguns dos principais membros do NEHiLP, e eles surgem de várias partes do planeta. “Há pouca gente do mundo que trabalha com questões de etimologia. Então todos conhecem todo mundo”, conta o professor. “Temos pessoas da Espanha, Portugal e Alemanha. O único especialista em etimologia árabe do mundo também faz parte do nosso grupo”.
Objetos de estudo
Para se analisar a etimologia de um idioma são utilizados documentos antigos e atuais. O processo envolve organizar a informação linguística que permite gerar dados de qualidade para a consulta tanto de especialistas em linguística como de outros setores da sociedade que se interessem por etimologia. Entre eles estão jornalistas e cientistas das mais variadas áreas.
Dentre os muitos projetos do Núcleo, o professor destaca o maior deles, a construção do DELPo. “O português é a única língua europeia que não tem um dicionário etimológico nos padrões exigidos pela linguística moderna”, argumenta. De acordo com Viaro, “só é possível fazer etimologia sabendo quando a palavra surgiu e por isso criamos um programa que, quando alimentado, vai retrodatando as palavras”. O processo, sempre comandado por um especialista, envolve a elaboração de fichas e a criação de verbetes.
Para elaborar o dicionário, o Núcleo conta com dois projetos principais de programação. O primeiro faz a chamada Retrodatação, que investiga a datação mais antiga de uma palavra à busca do seu étimo e o de suas acepções. O segundo é o Metaplasmador, que, nas palavras do docente, “é um programa que vai testar se a etimologia é compatível com as chamadas leis fonéticas ou requer explicação extra”. O programa foi criado para ser utilizado por iniciantes da área que precisam basear suas pesquisas em regras hoje pouco conhecidas (as chamadas leis fonéticas), que formam o primeiro passo para a investigação de uma etimologia científica. O programa funcionará com a inserção de uma palavra em Latim e será capaz de prever o caminho “regular” da evolução dessa palavra. “Quando o caminho não é regular, a palavra precisa de uma explicação e é aí que entra nosso trabalho”.
Quando o caminho não é regular, a palavra precisa de uma explicação e é aí que entra nosso trabalho.
No momento, apenas pesquisadores possuem acesso ao programa, mas os planos do Núcleo envolvem a criação de duas versões, uma delas acessível a qualquer pessoa que seja um interessado no assunto. O NEHiLP contará com a ajuda de voluntários que não são credenciados como especialistas, mas têm grande interesse na área. “Qualquer um que gosta desse assunto pode entrar em contato. E não necessariamente precisam ser do mundo acadêmico. Eles podem vir a fazer parte do grupo, mas necessitarão fazer um curso e serão avaliados antes”, esclarece Viaro. “O assunto atrai muita gente, mas temos a preocupação com a etimologia científica”.
A previsão para que o programa seja disponibilizado para todos é até o final deste ano. Os interessados podem obter informações sobre seu funcionamento no manual dentro do site oficial do Núcleo.
Resultados no papel
Já existem quatro publicações oficiais produzidas pelo Arquivo do NEHiLP. “É uma série bibliográfica. Até o final do ano haverá mais três publicações”, pontua o professor. No site é possível encontrar também informações sobre livros elaborados por membros do Núcleo que discorrem sobre diversos assuntos referentes ao estudo etimológico.
Além delas, o Núcleo promove eventos em parceria com o Grupo de Morfologia Histórica do Português. “A Morfologia Histórica é um estudo especifico, toda língua tem uma morfologia, isto é, classes gramaticais, substantivos, artigos etc. O grupo até agora tem estudado sobretudo a história dos sufixos”, esclarece.
“No grupo de Morfologia Histórica sentimos a necessidade de nos aprofundar na história das palavras e uma etimologia bem feita seria a solução. O Núcleo nasceu inicialmente para suprir essa necessidade”, finaliza Viaro.
Mais informações: email [email protected]
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