Denise Casatti e Ronaldo Castelli / Assessoria de Comunicação do ICMC
Os desafios do ensino de matemática para portadores de necessidades especiais é um dos temas que permeiam as pesquisas realizadas pela professora Edna Zuffi no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Abordagem personalizada, sensibilização e mobilização da família são palavras-chave nesse contexto, segundo a professora, que colabora em dois laboratórios no Instituto: o de Ensino de Matemática (LEM) e o de Educação Matemática (LEMa), coordenados pela professora Miriam Utsumi.
De acordo com a legislação vigente no País, são considerados portadores de necessidades especiais aqueles que possuem um distúrbio de caráter permanente, tais como os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), que afetam as habilidades de socialização, de comunicação e de interpretação do outro. Encaixam-se nessa definição os superdotados (com altas habilidades), os autistas, e os portadores de Síndrome de Down, Síndrome de Asperger e de deficiências físicas como cegueira, surdez, paralisia cerebral, paraplegia, entre outras.
Para aprimorar o ensino destinado a esse público-alvo, a professora do ICMC destaca que o primeiro passo é garantir o acesso à informação: “O professor deve conhecer o que a lei garante, o que o governo oferece e onde conseguir materiais, como recursos computacionais, softwares, materiais em braile, com cores diferenciadas, transcrições em áudio, etc.”
Em 2001, o Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu uma resolução que obriga as escolas de ensino regular a aceitarem alunos, independentemente de serem ou não portadores de necessidades especiais. Desde então, aumentou a demanda por professores qualificados para atender essa nova realidade. Edna explica que, como a lei é recente, grande parte dos professores ainda está despreparada e falta infraestrutura (como recursos, salas apropriadas e profissionais de apoio) na maior parte das instituições de ensino.
“É muito complexo começar um processo de inclusão sem prover o devido preparo. Podemos comprometer o desenvolvimento do deficiente e até mesmo prejudicar o andamento dos trabalhos de toda a classe”, ressalta Zuffi. A professora destaca que há treinamento sendo oferecido pelo Ministério da Educação, mas que seu alcance ainda é restrito.
Da abordagem à sensibilização
Desde 2012, os alunos do ICMC, do curso de Licenciatura em Matemática, podem se matricular em uma disciplina optativa focada em preparar o futuro professor para desenvolver o conteúdo escolar de matemática com os portadores de necessidades especiais. A disciplina Ensino de Matemática para Alunos com Necessidades Especiais busca ensinar algumas ferramentas específicas.
“O futuro professor de matemática que optar por cursar essa disciplina não será um especialista, porém terá noção e visão da inclusão do ensino de matemática para esses alunos com necessidades especiais”, esclarece Edna. Ao cursar a disciplina, os futuros professores têm a oportunidade de examinar a literatura e legislação disponíveis sobre a temática da inclusão escolar e relacioná-la a questões específicas do ensino e aprendizagem de matemática nos níveis fundamental e médio.
Entre os assuntos abordados está a necessidade de que o professor desenvolva a habilidade de agir de acordo com as características individuais desses alunos. “O método de ensino que será utilizado pelo professor dependerá da forma como o aluno com necessidades especiais consegue interagir e o trabalho pode se tornar mais difícil quando falamos de pessoas com mais de um transtorno”, pontua a professora.
A pesquisadora do ICMC relata que, muitas vezes, por não saber lidar com o portador de necessidade especial, o professor acaba não desenvolvendo a atividade pedagógica que deveria ser realizada e deixa esse aluno apenas cumprindo uma tarefa de forma não direcionada como, por exemplo, pintar ou desenhar sem um propósito.
Além disso, ela destaca que é preciso desenvolver a capacidade de sensibilização dos professores: “Trabalhar apenas com conteúdo matemático, por si mesmo, muitas vezes não é o melhor caminho. O professor deve ser sensível para analisar as condições intelectuais daquele aluno, independentemente da sua idade, para compreender o que é possível ser realizado naquele caso e ampliar os ganhos no desenvolvimento da autonomia do aluno”.
Outro fator importante na hora de ensinar matemática aos portadores de necessidades especiais é a participação da família. “A família deve acompanhar e participar do desenvolvimento da criança porque, isoladamente, o professor não consegue identificar a necessidade do aluno”, reforça a pesquisadora. Ainda segundo a professora, umas das grandes dificuldades do profissional é que, às vezes, nem o núcleo familiar tem o diagnóstico exato do distúrbio que afeta o aluno. Nesses casos, é ainda mais difícil para o professor realizar seu trabalho e a relação estreita com esse núcleo se torna mais fundamental, para que seja dada continuidade ao trabalho de desenvolvimento da criança ou adolescente, também fora da sala de aula.
Mais informações: site http://lem.icmc.usp.br/
Tags: Autistas, CNE, Comunidade USP, Conselho Nacional de Educação, Deficiência física, Diagnóstico, Edna Zuffi, Ensino de Matemática para Alunos com Necessidades Especiais, Família, ICMC, Imprensa, Inclusão, Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Laboratório de Educação Matemática, Laboratório de Ensino de Matemática, LEM, LEMa, Licenciatura em Matemática, Ministério da Educação, Miriam Utsumi, Necessidades especiais, Paralisia cerebral, Portadores de necessidades especiais, São Carlos, Síndrome de Asperger, Síndrome de Down, Superdotados, TGD, Transtornos Globais do Desenvolvimento