Os acordes da viola, que contam a vida no campo e na estrada, selaram o encontro que celebrou os 80 anos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP no dia 15 de dezembro. Autoridades da área, chefes de departamento, professores, alunos e funcionários reuniram-se no Anfiteatro Altino Antunes para rememorar as origens do curso de veterinária, que completa 95 anos, avaliar suas principais contribuições para a ciência e a sociedade, e compartilhar as perspectivas para o futuro da Faculdade.
“2014 é um ano de júbilo, de glória para a USP e a FMVZ. Temos muito o que comemorar”, afirma o diretor da Faculdade, Enrico Lippi Ortolani. Sua fala destacou os números alcançados em termos de publicações, avaliações da Capes, cursos de especialização, além das ações que vem sendo desenvolvidas atualmente, como o apoio à internacionalização, reforma curricular e a construção de um novo centro didático. Conquistas, lembra, que vieram como consequência de um passado construído por pessoas que se dedicaram à profissionalização da medicina veterinária no país e buscaram a constante inovação em suas práticas.
Uma das oito unidades que deram vida à USP em 1934, a FMVZ (antes apenas FMV) encontra suas raízes ainda em 1919, com a criação do Instituto de Veterinária, ligado à Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo. Desde então, suas atividades já foram sediadas no centro da cidade, no bairro da Aclimação e em vários locais da Cidade Universitária, como o Instituto de Biociências (IB) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), até se concentrarem em definitivo na Av. Prof. Orlando Marques de Paiva. O Instituto se tornaria a Escola de Medicina Veterinária em 1928 e em 1934, já como Faculdade de Medicina Veterinária, seria incorporada à USP. Em 1957, foi constituído o campus de Pirassununga, que abriga alguns dos setores da Faculdade e onde é ministrado parte do curso de graduação e, pouco depois, a Faculdade agregaria a Zootecnia em seu nome.
Memória
Essa linha do tempo foi retomada em detalhes pelo professor João Palermo Neto, aplaudido de pé após homenagear alguns dos tantos docentes que passaram pela Faculdade. “Foram eles a pensar o ensino da profissão, a idealizar nossa biblioteca, foram eles que sonharam ser possível fazer o atendimento ambulatorial às aves, eles que imaginaram ser necessário ensinar bons tratos no uso de animais de laboratório no país, que introduziram a inseminação artificial”, lista, entre outros feitos, Palermo Neto. “Nada mais justo, então, que se faça agora um tributo de gratidão e de respeito àqueles que, em passado glorioso, sonharam esta Faculdade. Nas palavras de Euclides Onofre Martins, aquele que não cultura o passado, não merece o futuro”, pontua o professor, que está em vias de se aposentar.
“De fato, o passado desta faculdade é um passado brilhante”, concordou o reitor Marco Antonio Zago, presente na mesa de abertura da cerimônia. O dirigente lembrou da importância da Universidade, cuja fundação representou momento especial na história ciência e da tecnologia e do ensino superior no país. Estavam presentes na celebração, ainda, o vice-reitor Vahan Agopyan, o presidente da Academia Paulista de Medicina Veterinária, Eduardo Harry Birgel, o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, Francisco Cavalcanti de Almeida, e o vice-diretor da FMVZ, Francisco Javier Blazquez.
Extensão valorizada
Dentre os serviços oferecidos pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia à comunidade, um dos mais notáveis é o Hospital Veterinário, o Hovet, o maior do tipo na América Latina. Criado em 1981, o hospital realiza atendimento médico, cirúrgico, ambulatorial e hospitalar, além de servir de treinamento a alunos da graduação e a médicos em programas de residência. Somente no ano passado foram atendidos quase 36 mil casos – “desde passarinhos até bovinos”, explica o diretor da FMVZ. Serviços de várias especialidades foram oferecidos pela primeira vez no Brasil pelos profissionais do Hovet.
Enrico Ortolani destaca ainda os dias de campo, assumidos como uma das principais missões em seu mandato. Reunindo agrônomos, zootecnistas e veterinários, os encontros proporcionam a troca de informações, atualização dos produtores e contato direto com quem vive do campo.
O contato da Faculdade com a comunidade se dá, também, por meio do Museu de Anatomia Veterinária (MAV), que recebe visitantes espontâneos e grupos escolares interessados no acervo composto de mais de mil peças, entre esqueletos, animais taxidermizados, órgãos e estruturas anatômicas de animais vertebrados. Outro acervo de relevância presente na unidade é o da Biblioteca Virginie Buff D’Ápice, um dos mais importantes da área na América Latina.
Presente dinâmico e futuro promissor
A FMVZ foi a primeira escola brasileira de veterinária a oferecer cursos de pós-graduação e tem, até hoje, o maior programa do país, com sete áreas – uma delas, com nota 7, a maior concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A pesquisa na unidade, inclusive, já foi agraciada com o Prêmio Capes de Tese.
O ensino na graduação também recebe atenção e, em especial na última década, a internacionalização vem sendo estimulada de diversas formas. Neste mês, a FMVZ recebeu representantes da Faculdade de Veterinária da Universidade de Zaragoza (Espanha) para discutir a implantação do duplo diploma de graduação entre as faculdades. Projeto semelhante também está sendo discutido com Universidade do Porto (Portugal).
“Além disso, estamos aumentando ano a ano o número de alunos que estão indo para fora e agora está explodindo o número de alunos que estão nos descobrindo, vindo de diferentes países com os convênios, em especial os países da América do Sul”, comemora Ortolani. Segundo o diretor da FMVZ, está em curso também a reforma do currículo da graduação, que visa modernizar a formação dos alunos e adequar os conhecimentos à realidade do mercado.
Convidado a falar sobre o futuro da Faculdade, Fabio Gregori, ex-aluno do professor João Palermo Neto e hoje docente do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal, retomou a importância de se valorizar o que foi feito no passado para seguir evoluindo. “Acho que o caminho para o futuro é continuarmos essa relação com a sociedade, ouvir necessidades, propor soluções e seguir esses bons exemplos dos nossos professores. A USP vence pela ciência e continuará vencendo pela ciência”, afirma, em referência ao lema “Scientia vinces”, presente no brasão da Universidade.
A comemoração dos 95 anos da criação do curso de medicina veterinária e dos 80 anos da FMVZ contou com o apoio de diversas empresas veterinárias e foi encerrada com uma apresentação do Coral dos Violeiros de Pirassununga.
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