Rosemeire Soares Talamone / Serviço de Comunicação da Prefeitura do Campus USP de Ribeirão Preto
Um dos broncodilatadores mais utilizados para tratar pacientes asmáticos, o Sulfato de Salbutamol, sendo o mais conhecido comercialmente o Aerolin, tem efeito erosivo em dentes de leite, os chamados decíduos. E essa erosão acontece tanto no esmalte quanto na dentina. A preocupação dos pesquisadores é que outros trabalhos na literatura já alertaram que pessoas com erosão na dentição decídua têm maior risco de desenvolver erosão na dentição permanente.
Esse é o principal resultado de estudo da cirurgiã-dentista Camila Scatena, com a tese Efeitos de um medicamento antiasmático potencialmente erosivo no esmalte e dentina de dentes decíduos: estudo in situ”, na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP.
Segundo dados da literatura, a erosão dental leve mostra desgaste do esmalte e pode causar sensibilidade dentinária, aquela dorzinha que muita gente sente quando toma algo gelado ou come doce. Em estágios mais avançados, há alterações na morfologia do esmalte, com concavidades na superfície do dente. Pode, ainda, ocorrer perda da altura do dente, além de comprometimento estético e, em casos graves, acometimento da polpa e necessidade de tratamento de canal.
A pesquisadora lembra que essa é mais uma das razões para que os profissionais de saúde fiquem atentos aos cuidados necessários com as pessoas que usam medicamentos rotineiramente. Existem vários medicamentos antiasmáticos, diz, mas a maioria dos estudos mostram que eles têm pH ácido e potencial erosivo. “O uso prolongado de medicamentos ácidos na cavidade bucal de crianças com desordens crônicas causa preocupação, principalmente pela frequência de ingestão e pelo uso noturno, período em que os efeitos protetores da saliva são menores”.
Prevenção
Nesse caso, diz, as pessoas que usam medicações ácidas por períodos prolongados podem aumentar a ingestão de cálcio, comendo queijos, tomando iogurtes e leite. Camila sugere, ainda, que utilizar creme dental específico para prevenir erosão, fazer bochechos com flúor para remineralizar o esmalte ou com bicabornato de sódio para neutralizar o ácido, ou mesmo tomar o remédio com uma seringa ou canudo para que não haja contato direto com os dentes, também são ações que minimizam o impacto desses medicamentos.
Quando defendeu o mestrado em 2011, também na FORP, Camila comprovou in vitro (em laboratório), o efeito erosivo do Sulfato de Salbutamol, do Xarope Vick e do Sulfato Ferroso em dentes decíduos. “A dúvida era se na boca, in situ, com saliva humana que é naturalmente protetora, e com o flúor da água e do creme dental, esse resultado se repetiria no esmalte e na dentina”.
Para avaliar o efeito do Salbutamol no ambiente bucal, a pesquisadora contou com 14 voluntários, com boa saúde geral e bucal, não asmáticos, homens e mulheres, com idade entre 18 e 35 anos, que receberam aparelho semelhante ao ortodôntico removível, ou seja, uma placa no céu da boca, com os corpos de prova fixados que consistiam em pedaços de esmalte e dentina de dentes decíduos embutidos em resina.
Durante cinco dias consecutivos, três vezes ao dia, com o aparelho fora da boca, os voluntários aplicaram o medicamento antiasmático nos pedaços de dentes e enxaguaram com água corrente. Em seguida, voltaram a colocá-lo na boca para ter o efeito da saliva. Foi aplicado medicamento somente nos pedaços de dente de um dos lados do aparelho, definido por sorteio. “Nos corpos de prova de esmalte dental expostos ao medicamento, foi observada erosão que provocou um aumento na rugosidade, no perfil de desgaste e uma diminuição da dureza da superfície do dente, quando comparado ao esmalte que não entrou em contato com o Sulfato de Salbutamol”, revela Camila.
“Na literatura, os pesquisadores são unânimes em afirmar que o diagnóstico precoce e a intervenção desde os primeiros anos de vida ajudarão a evitar danos aos dentes permanentes”, conclui.
A defesa de doutorado foi no final de outubro no Programa de Pós-Graduação em Odontopediatria na FORP USP, com orientação da professora Mônica Campos Serra e colaboração da professora Maria Cristina Borsatto. A pesquisadora recebeu bolsa da Fundação Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação, e o estudo auxílio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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