Clarice Lispector
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia e morreu no Rio de Janeiro. Veio morar para o Brasil quando era recém-nascida. Casou-se com um diplomata e morou em vários países.
Obra
Perto do coração selvagem (recusado por uma editora, acabou sendo premiado); O lustre; A cidade sitiada; A maça no escuro; A paixão segundo G. H.; Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres; Água viva; Felicidade Clandestina; Onde estiveste de Noite?; A hora da estrela.
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Características da obra
Clarice trouxe muitas inovações para a literatura, tanto no que diz respeito à temática tanto no que se refere à estrutura narrativa.
Não aparecem temas regionalistas em sua obra e sim a sondagem psicológica do indivíduo, a análise de suas angústias e seus dramas existenciais.
Clarice Lispector é o nome mais significativo do romance introspectivo. O principal eixo de sua obra é o questionamento do ser, o “estar-no-mundo”, a pesquisa do ser humano.
“Não tem pessoas que cosem para fora? Eu coso para dentro”. Assim explicava a autora seu ato de escrever.
Na linguagem, há uma certa preocupação com a revalorização das palavras: dá-lhes uma roupagem nova, explorando os limites do significado, trabalhando metáforas e aliterações. Manifesta uma grande preocupação com aquilo que está escrito nas entrelinhas.
Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas. O melhor ainda não foi escrito. O melhor está nas entrelinhas.
A linearidade da narrativa (começo, meio, fim) não importa. Interessa-lhe a narrativa baseada na memória, nas emoções, isto é, no “fluxo da consciência” do narrador.
Os diálogos são em pequeno número, dando lugar ao monólogo interior, que é uma das técnicas adequadas à análise introspectiva.
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A hora da estrela
Em A hora da estrela, Clarice Lispector produz um texto que apresenta dois eixos: o drama de Macabéa, pobre moça alagoana engolida pela cidade grande, e o drama do narrador, duelando com as palavras e os fatos. Poderíamos afirmar que se trata de uma narrativa de caráter social e, ao mesmo tempo, uma profunda e angustiada reflexão sobre o ato de escrever. O crítico Eduardo Portella chegou a questionar se A hora da estrela não estaria revelando uma nova Clarice Lispector, “exterior e explícita”, para concluir que “a moça alagoana é um substantivo coletivo” por personificar um drama em que ela deixa de ser um transeunte anônimo, solitário e inconsequente, para adquirir o sentido incômodo de uma provocação em aberto. Com relação à construção da narrativa, existe um narrador que dificulta a localização de sua voz, misturando-a com a das outras personagens.
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Desafios
Textos para questão 01
“As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias.”
(de “Os desastres de Sofia”)
“(…) Na verdade era uma vida de sonho. Às vezes, quando falavam de alguém excêntrico, diziam com a benevolência que uma classe tem por outra: “Ah, esse leva uma vida de poeta”. Pode-se talvez dizer, aproveitando as poucas palavras que se conheceram do casal, pode-se dizer que ambos levavam, menos a extravagância, uma vida de mau poeta: vida de sonho. Não, não era verdade. Não era uma vida de sonho, pois este jamais os orientara. Mas de irrealidade.
(de “Os obedientes”)
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Questão 01
Com base nos fragmentos acima transcritos, extraídos de contos do livro “Felicidade clandestina”, de Clarice Lispector, considere as seguintes afirmativas:
1. Narrar ou deixar de narrar, avaliar de diferentes maneiras um mesmo fato narrado são hesitações frequentes dos narradores de Clarice Lispector. Como nos fragmentos acima, também em outros contos prioriza-se a abordagem da vida interior, própria ou alheia, revelando sutis alternâncias de percepção da realidade.
2. O aspecto metalinguístico do primeiro fragmento não está presente em todos os contos, mas é fundamental para algumas narrativas, dentre as quais “Os desastres de Sofia”, que trata da complexa relação entre uma menina e o professor que a ajudou a perceber a força da palavra escrita.
3. Como em “Os obedientes”, também nas outras narrativas de “Felicidade clandestina” homens e mulheres passam por idênticas angústias. Na ficção de Clarice Lispector, as diferenças entre a percepção masculina e a feminina não são tematizadas, pois o ser humano está sempre condenado a viver num mundo incompreensível.
4. O desfecho surpreendente do conto “Os obedientes”, com o suicídio da esposa, reforça a visão crítica dos narradores de Clarice Lispector sobre a rotina da vida doméstica, nunca observada como uma “vida de sonho”.
5. Na ficção de Clarice Lispector, apenas as personagens adultas têm consciência de seus processos interiores. As crianças e adolescentes sofrem o impacto de novas descobertas, mas sua inocência os afasta de qualquer comportamento perverso e os protege dos riscos de viver mais intensamente.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 1, 2 e 5 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 3, 4 e 5 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 2, 3, 4 e 5 são verdadeiras.
Texto para questão 02.
Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu silêncio e na penumbra. Vejo pouco, ouço quase nada. Mergulho enfim em mim até o nascedouro do espírito que me habita. Minha nascente é obscura. Estou escrevendo porque não sei o que fazer de mim. Quer dizer: não sei o que fazer com meu espírito. O corpo informa muito. Mas eu desconheço as leis do espírito: ele vagueia. Meu pensamento, com a enunciação das palavras mentalmente brotando, sem depois eu falar ou escrever – esse meu pensamento de palavras é precedido por uma instantânea visão sem palavras, do pensamento – palavra que se seguirá, quase imediatamente – diferença espacial de menos de um milímetro. Antes de pensar, pois, eu já pensei.
(Clarice Lispector. Um sopro de vida.)
Assinale a opção que corresponde, no trecho, ao pensamento de Clarice Lispector sobre a criação literária.
a) A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote e adeus.
b) Não colhas no chão o poema que se perdeu.
c) Vozes da infância, contai a história da vida boa que nunca veio.
d) Pensar é a concretização, materialização do que se pré-pensou.
e) O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.
Questão 03
O modo de Clarice Lispector ver a criação literária guarda relação com o momento histórico em que ela escreve. Em outros momentos históricos, outras relações ocorreram.
Assinale a opção correta.
a) O Modernismo relaciona-se com um modo de escrever que pretende discutir a criação literária e produzir a simplicidade e a métrica do pastoralismo.
b) O Neoclassicismo relaciona-se com um modo de escrever que reproduz a arte barroca tal como ela era.
c) O Realismo relaciona-se com um modo de escrever que se caracteriza pela musicalidade, pela sinestesia e pelas aliterações.
d) O Simbolismo relaciona-se com um modo de escrever que apresenta a realidade tal como ela é.
e) O Romantismo relaciona-se com um modo de escrever que adota a estética da expressão do eu autoral.
Questão 04
Assinale a alternativa incorreta sobre Clarice Lispector.
a) Clarice Lispector pertence à terceira fase do Modernismo e trabalha com a prosa psicológica.
b) Nos contos da autora, os personagens têm poucas ações.
c) No nível da linguagem, percebe-se certa preocupação com a revalorização das palavras, dando-lhes uma roupagem nova.
d) A autora desenvolve um enredo rico em episódios de ação externa.
e) Sua obra apresenta como principal sustentáculo o questionamento do ser, o “estar-no-mundo”, o intimismo e a pesquisa do ser humano.
A próxima questão refere-se ao texto a seguir.
“Ainda estava sob a impressão da cena meio cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da despedida. Durante as duas semanas da visita da velha, os dois mal se haviam suportado; os bons dias e as boas tardes soavam a cada momento com uma delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi, a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido se tornara o bom genro. ‘Perdoe alguma palavra mal dita’, dissera a velha senhora, e Catarina, com alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer das malas nas mãos, gaguejar — perturbado em ser o bom genro. ‘Se eu rio, eles pensam que estou louca’, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas. ‘Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma filha ganha mais um’, acrescentara a mãe […].”
(LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982. p. 109-111.)
Questão 05
Com base no texto, é correto afirmar que Catarina:
a) Sente um certo tédio por ser obrigada a participar do episódio de despedida de sua mãe.
b) Diverte-se observando o constrangimento do marido e da mãe no episódio da despedida.
c) Embora ansiasse pela partida da visitante, sente muita tristeza ao final da visita da mãe.
d) Certifica-se de que a mãe e o marido, para sua tristeza, jamais poderiam manter um bom relacionamento.
e) Compartilha do sofrimento vivenciado pela mãe e pelo marido na hora em que se despedem.
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