Modernismo – Terceiro Momento
Geração de 45
A época
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa começou o lento processo de reconstrução em meio aos destroços humanos e políticos. A Guerra-Fria, iniciada com a ameaça de uma hecatombe nuclear, dividiu o mundo em dois blocos: um capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e outro socialista, sob o comando da ex-União Soviética.
O Brasil aliou-se aos norte-americanos, contra a expansão do comunismo. O Partido Comunista, abrigo de muitos intelectuais, entrou na ilegalidade. Escritores como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado tiveram suas obras queimadas em praça pública. Alguns foram presos, outros, exilaram-se.
Crises internas enfraqueceram a ditadura Vargas, e ele acabou destituído por aqueles que o ajudaram a chegar ao poder: os militares. Em 1946, Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência. Getúlio, porém, idolatrado pelo povo, que o via como o “pai dos pobres”, voltou ao poder em 1951.
O cenário político, no entanto, havia mudado. A resistência da elite à nova administração de Vargas deixou o presidente acuado, envolvido em escândalos que envolviam pessoas muito próximas a ele. Os militares voltaram a pressionar Getúlio para se afastar do governo. Em 24 de agosto de 1954, Vargas cometeu suicídio.
A repercussão popular pela morte de Vargas superou muito a expectativa dos militares. Tanto eles quanto os conservadores viram-se obrigados a recuar. A solução encontrada foi convocar eleições diretas. Juscelino Kubitschek foi eleito presidente com a promessa de realizar, em cinco anos, o equivalente a cinqüenta anos de mandato. O símbolo de seu governo, que resumia a ideia do “Brasil Grande”, foi a construção de Brasília, a nova capital, no planalto central do país.
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Durante o governo de JK o país floresceu: indústrias foram estimuladas a vir para o Brasil com a promessa de grandes isenções fiscais. O crescimento industrial acelerado desencadeou um crescimento urbano equivalente, comprometendo a estrutura dos grandes centros. Massas humanas deslocaram-se do campo para a cidade à procura de oportunidades. Até hoje sofremos as consequências sociais e econômicas da industrialização acelerada promovida por JK.
O sucessor de Juscelino, Jânio Quadros, chegou ao poder com forte apoio popular. Contando com ele, e desprezando o Congresso Nacional, desejou alargar as suas próprias forças. Vendo-se impedido, renunciou depois de sete meses. Nova Crise se instalou, porque o vice-presidente João Goulart tinha francas simpatias pelas ideologias de esquerda. Depois de um breve período Parlamentarista, Goulart assumiu o governo, para descontentamento de setores militares, que viam nele a ameaça do avanço do comunismo no Brasil.
Em 1964, o descontentamento converteu-se em ação, e o governo foi derrubado pelo golpe militar. Uma nova ditadura instalou-se.
O estilo
A prosa dessa nova geração, enriquecida pelo aparecimento de um número muito grande de contos e romances, pode ser dividida em prosa psicológica, urbana e regionalista.
Autores
• João Guimarães Rosa: Nasceu em Minas Gerais e passou a infância no centro-norte de seu estado natal, onde o pai exercia atividades ligadas à pecuária.
Cursou o secundário e a faculdade de Medicina em Belo Horizonte.
Trabalhou em várias cidades do interior mineiro, sempre demonstrando profundo interesse pela natureza, por bichos e plantas, pelos sertanejos e pelo estudo de línguas.
Características
A linguagem empregada era uma língua culta, com alguns termos regionais, e as personagens utilizavam a linguagem típica da região.
A grande novidade linguística introduzida pelo regionalismo de Guimarães foi de recriar, na literatura, a fala do sertanejo não apenas no nível do vocabulário, mas, também, no da sintaxe (a construção das frases) e no da melodia das frases.
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Era um linguajar imobilizado no tempo. Disso resultaria o seguinte:
a) elementos do linguajar sertanejo |
+ |
b) transfiguração estilística desse linguajar |
= |
c) a linguagem mais revolucionária e mais inventiva de toda a nossa história. |
Outro aspecto de destaque da obra roseana é sua capacidade de transpor os limites do espaço regional, em que quase sempre se situam seus textos, e alcançar uma dimensão universal. Ele deixa de ser limitado pelo aspecto geográfico para representar o próprio mundo. Veja alguns conceitos de mundo que aparecem em Grande Sertão: Veredas.
“O sertão está em toda parte”
“Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.”
“O sertão é do tamanho do mundo.”
Obra
Sagarana (contos); Corpo de Baile (ciclo novelesco); Grande Sertão: Veredas (romance); Primeiras Estórias (contos); Tutaméia: Terceiras Estórias (contos); Estas Estórias (contos).
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Desafios
Texto para questão 01
Miguilim
“De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.
Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?Miguilim. Eu sou irmão do Dito.
E o seu irmão Dito é o dono daqui?
Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.
O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro. Redizia:
Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda… Mas que é que há, Miguilim?
Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.
Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa?
É Mãe, e os meninos…
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada.
O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: -‘ Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?’”
(ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.)
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Questão 01
Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado em:
a) “O homem trouxe o cavalo cá bem junto.”
b) “Ele era de óculos, corado, alto (…)”
c) “O homem esbarrava o avanço do cavalo, (…)”
d) “Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, (…)”
e) “Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos”
Questão 02
(ESPM) Leia o texto:
“O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro — dá gosto! A força dele, quando quer — moço! —me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho — assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.”
(Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa)
Marque a afirmação que NÃO corresponde:
a) trata-se de uma narrativa oral, perceptível pelo uso de vocativos como “senhor” e “moço”.
b) Deus age sutilmente (“lei do mansinho”), enquanto o diabo o faz de maneira escancarada (“às brutas”)
c) na vida, tudo flui incessantemente, nada é estático: “as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas”.
d) o milagre resulta do inesperado, do modo contido (“se economiza”), e não do espalhafatoso.
e) o termo “traiçoeiro” atribuído a Deus possui um sentido pejorativo, depreciativo.
Texto para questão 03.
(…) Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada – erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. (…)
(Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa)
Questão 03
O texto de Guimarães Rosa mostra uma forma peculiar de escrita, denunciada pelos recursos linguísticos empregados pelo escritor. Dentre as características do texto, está:
a) o emprego da linguagem culta, na voz do narrador, e o da linguagem regional, na voz da personagem;
b) a recriação da fala regional no vocabulário, na sintaxe e na melodia da frase;
c) o emprego da linguagem regional predominantemente no campo do vocabulário;
d) a apresentação da língua do sertão fiel à fala do sertanejo;
e) o uso da linguagem culta, sem regionalismos, mas com novas construções sintáticas e rítmicas.
Texto para a próxima questão
O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. […] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar, dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade.
(Guimarães Rosa)
Questão 04
O texto é um fragmento de Grande sertão: veredas (1956), único romance de Guimarães Rosa. Sobre esta grandiosa obra, assinale a alternativa CORRETA.
a) Trata-se de uma história em que o autor fala da vida dos cangaceiros, “os errantes sem eira nem beira”, que sofriam com o calor das matas amazônicas.
b) É uma história apresentada como um imenso monólogo em que Riobaldo, ex-jagunço do norte de Minas e agora pacato fazendeiro, conta os casos que viveu a um compadre.
c) Conta a saga de Severino, um retirante que atravessa o sertão de Pernambuco em busca de uma vida mais digna.
d) Narra a história de amor entre Gabriela e Nacib, tendo os traços exóticos da região de Ilhéus como cenário.
e) Valendo-se do realismo fantástico em sua segunda parte, traz, como personagens centrais, mortos que ressuscitam para denunciar a corrupção dos vivos.
Questão 05
Leia o texto a seguir e responda à questão.
Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem — ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! — é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco — é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso — por estúrdio que me vejam — é de minha certa importância. Tomara não fosse… Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela — já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter uma aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar… Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças — eu digo. Pois não é o ditado: “menino — trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes… O diabo na rua, no meio do redemunho…
(Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa)
A personagem Riobaldo dialoga com alguém que chama de senhor. Embora a fala dessa personagem não apareça, é possível recuperar, pela fala do narrador, os momentos em que seu interlocutor se manifesta verbalmente. Isso pode ser comprovado pelo trecho:
a) O senhor aprova?
b) Nenhum! — é o que digo.
c) Não? Lhe agradeço!
d) Tem diabo nenhum.
e) Até: nas crianças — eu digo.
Você consegue resolver estes exercícios? Então resolva e coloque um comentário no post, logo abaixo, explicando o seu raciocínio e apontando a alternativa correta para cada questão. Quem compartilha a resolução de um exercício ganha em dobro: ensina e aprende ao mesmo tempo. Ensinar é uma das melhores formas de aprender!
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