João Cabral de Melo Neto
“Nenhum nordestino é indiferente ao meio em que vive, em que se criou.”
A poesia de João Cabral se caracteriza pela objetividade na constatação da realidade e, em alguns casos, pela tendência ao surrealismo. No nível temático, podemos distinguir em sua poética três grandes preocupações: o Nordeste (os retirantes, o folclore, as tradições); a Espanha (as paisagens, em que se destacam os pontos em comum com o Nordeste brasileiro) e a própria Arte (a pintura, a literatura, a própria arte poética e até mesmo o futebol).
Obra
Pedra do sono; O engenheiro; O cão sem lumas; A educação pela pedra; Morte e vida Severina.
É chamado de “poeta-engenheiro”, pois constrói uma linguagem enxuta, concisa, fazendo do escrever um trabalho de depuração; as palavras são degustadas e selecionadas pelo seu sabor e peso, não podem boiar à toa:
Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel
e depois, joga-se fora o que botar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
A sua obra mais conhecida (por causa da montagem teatral) é Morte e Vida Severina, e que traz como subtítulo: Auto de natal pernambucano. Aqui a técnica despojada do autor realça ainda mais o aspecto dramático do assunto: a trajetória de um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta migração apenas a morte, seja a morte por causa da seca, da subnutrição ou a morte causada pelos cabras dos “coronéis” latifundiários. Severino explica quem é e para onde vai:
Morte e Vida Severina
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
e que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até a gente não nascida).
(…)
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Desafios
Questão 01
Leia o que disse João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a função de seus textos:
“Falo somente com o que falo: a linguagem enxuta, contato denso; falo somente do que falo: a vida seca, áspera e clara do sertão; falo somente por quem falo: o homem sertanejo sobrevivendo na adversidade e na míngua. Falo somente para quem falo: para os que precisam ser alertados para a situação da miséria no Nordeste.”
Para João Cabral de Melo Neto, no texto literário,
a) a linguagem do texto deve refletir o tema, e a fala do autor deve denunciar o fato social para determinados leitores.
b) a linguagem do texto não deve ter relação com o tema, e o autor deve ser imparcial para que seu texto seja lido.
c) o escritor deve saber separar a linguagem do tema e a perspectiva pessoal da perspectiva do leitor.
d) a linguagem pode ser separada do tema, e o escritor deve ser o delator do fato social para todos os leitores.
e) linguagem está além do tema, e o fato social deve ser a proposta do escritor para convencer o leitor.
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Questão 02
Leia atentamente os trechos abaixo.
I – poeta modernista da Terceira Geração, criou uma “poesia substantiva” em que da palavra se retiram os resíduos sentimentais. É o autor do antológico poema “Morte e vida Severina”.
II – Ficcionista da Geração de 45 do Modernismo brasileiro, criou uma obra com timbre personalíssimo em que se destacam o uso intensivo da metáfora insólita, a entrega ao fluxo da consciência e a ruptura com o enredo factual. Entre tantos, escreveu “Perto do coração selvagem”.
Estamos falando respectivamente, de:
a) João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector
b) Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles.
c) Murilo Mendes e Rachel de Queirós
d) Jorge de Lima e Lígia Fagundes Telles.
e) Vinícius de Moraes e Adélia Prado.
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Questão 03
É correto afirmar que no poema dramático Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto:
I – O destino que as ciganas preveem para o recém-nascido é o mesmo que Severino já cumprira ao longo de sua vida, marcada pela seca, pela falta de trabalho e pela retirada.
II – O poeta buscou exprimir um aspecto da vida nordestina no estilo dos autos medievais, valendo-se da retórica e da moralidade religiosa que os caracterizavam.
III – O “auto de Natal” acaba por definir-se não exatamente num sentido religioso, mas o reconhecimento da força afirmativa e renovadora que está na própria natureza.
Assinale a alternativa correta.
a) Está correta a proposição I.
b) Estão corretas as proposições I e II.
c) Estão corretas as proposições II e III.
d) Está correta a proposição II.
e) Todas as proposições estão corretas.
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Questão 04
Assinale V (verdadeiro) e F (falso): sobre o adjetivo severina, da expressão Morte e vida severina que intitula a peça de João Cabral de Melo Neto. Depois assinale a alternativa que traz a ordem correta.
( ) Refere-se aos migrantes nordestinos que, revoltados, lutam contra o sistema latifundiário que oprime o camponês.
( ) Pode ser sinônimo de vida árida, estéril, carente de bens materiais e de afetividade.
( ) Designa a vida e a morte dos retirantes que a seca escorraça do sertão e o latifúndio escorraça da terra.
( ) Qualifica a existência negada, a vida daqueles seres marginalizados determinada pela morte.
( ) Dá nome à vida de homens anônimos, que se repetem física e espiritualmente, sem condições concretas de mudança.
a) F V V V V
b) F F F V V
c) V F V F V
d) V V V V F
e) F F V V V
Questão 05
O trecho abaixo é um fragmento de Morte e vida severina, poema escrito por João Cabral de Melo Neto. O poema conta a história de Severino, um retirante que foge da seca, saindo dos confins da Paraíba para chegar ao litoral de Pernambuco (Recife). Lá, o retirante acredita que irá encontrar melhores condições de vida. Este excerto (trecho) conta o momento em que, no final de sua caminhada, Severino chega ao litoral. Mas, mesmo ali, encontra apenas sinais de morte, como quando estava no sertão. Completamente desacreditado, sugere a um morador da região que pretende o suicídio. Então, inicia com ele uma discussão. Acompanhe:
“- Seu José, mestre Carpina
Para cobrir corpo de homem
Não é preciso muita água.
Basta que chegue ao abdômen
Basta que tenha fundura igual a de sua fome.
– Severino retirante,
O mar de nossa conversa
Precisa ser combatido
Sempre, de qualquer maneira.
Porque senão ele alaga e destrói a terra inteira.
– Seu José, mestre Carpina,
Em que nos faz diferença
Que como frieira se alastre,
Ou como rio na cheia
Se acabamos naufragados
num braço do mar da miséria?”
O argumento central de Severino para defender sua intenção de suicidar-se é:
a) o de que o rio, tendo fundura suficiente, será o melhor meio, naquela situação, para conseguir seu intento.
b) o de que não é possível lutar com as mãos, já que as mãos não podem conter a água que se alastra.
c) o de que não é possível conter o mar daquela conversa, dada sua extensão e volume.
d) o de que a miséria, entendida como mar, irá naufragar mesmo a todos, independentemente do que se faça.
e) o de que abandonando as mãos para trás será mais fácil afogar-se, já que não poderá nadar.
Você consegue resolver estes exercícios? Então resolva e coloque um comentário no post, logo abaixo, explicando o seu raciocínio e apontando a alternativa correta para cada questão. Quem compartilha a resolução de um exercício ganha em dobro: ensina e aprende ao mesmo tempo. Ensinar é uma das melhores formas de aprender!
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