Quando nós saímos dos “bantustões” das periferias das grandes cidades, para estudar em uma universidade pública, ou particular de referência através de bolsas de estudo, a adaptação não é fácil. O choque cultural é iminente, a diferença de ideias, estilos e até a linguagem, muitas vezes são motivos de chacotas e não de correção pedagógica.
Um rapaz foi feliz em observar em seu comentário: “o convívio com a nova galera da faculdade é complicado. Eu estava acostumado a lidar com pessoas de poder aquisitivo relativamente baixo e agora estou aprendendo a conviver com indivíduos cuja situação financeira é mais cômoda. Mas é uma questão de adaptação”.
Estas pessoas saem do ponto A ao ponto Z, um contraste sócio-econômico e sócio-cultural abissal. Isso reflete no dia-a-dia. Na PUC-SP eu não vejo uma grande integração entre pessoas de classes sociais distintas, esta integração até ocorre, mas em número proporcionalmente pequeno, até por que os estudantes que fazem parte da elite (com raras exceções), não estão preocupados com os problemas sociais do país, mas sim, com o grupo que ela pertence.
Vejam só o hibridismo em que eu vivo, por exemplo:
Não consigo ter conversas e debates sobre questões sociais, como melhorar e contribuir para um país mais fraterno, com muitas pessoas da Universidade, pois não é interessante a mudança do status quo, ou simplesmente por futilidade mesmo. Já na periferia, também não consigo falar sobre tais temas, pois ninguém entende e/ou acham assunto chato, preferem continuar falando do policial que bateu no “traficantizinho” da rua de baixo, ou do próximo baile funk e futebol (este último eu ainda sou impregnado).
Enfim, quem tem acesso às informações, teve formação em boas escolas, em família e com condições financeiras, não conhece a realidade do país e pensa que o mundo se resume entre seu condomínio de luxo e a Champs Élysées, desprezando totalmente que “há vida inteligente lá fora”, apenas sem as mesmas oportunidades.
Já quem não tem acesso às mesmas informações, formados em escolas públicas, precárias e paupérrimas, só conhece a comunidade onde vive, sem a esperança de poder se “intelectualizar”, de criar, inovar, inventar…enfim, pensar. Não sabe ele que dentro da comunidade “há vida inteligente” e o tráfico de drogas ou o roubo não é a saída, mas a entrada para outro submundo da marginalização da marginalização, que é a vida pregressa, detenta em um presídio superlotado.
Este rico intercâmbio de A a Z, deveria ser evidenciado com mais ênfase nas Universidades Brasileiras, além de democratizar o acesso, os debates da teoria abstrata encontraria mais concretude e efetividade.
Dentro de minhas possibilidades, sempre procuro revolucionar não somente a minha persona, me adaptando às circunstâncias, mas principalmente incentivando aqueles que acham que não conseguem ou que não podem, se desvencilharem de seus grilhões e mudar a sua própria história. Assim como o Sol nasce para todos, indistintamente, as oportunidades devem ser do mesmo jeito.
Muitas vezes me flagro pensando, como podemos ter tantas mentes ilustres, como Paulo Freire, eminente educador da PUC-SP, e muitas vezes sermos furtados com aulas com baixo conteúdo pedagógico, com metodologias de ensino estapafúrdias para dias atuais!!!!! Imagine em outras Universidades com menor referência??? Agora imagine a diferença do jovem que estudou no DANTE em relação àquele que estudou em escola pública da Cidade Tiradentes????
Durante estes cinco anos, eu aprendi que na periferia nem todos são monstros criminosos, e que nem todas pessoas abastadas são tubarões do sistema político e econômico. Se dermos oportunidades este país será o celeiro e o jardim do mundo, mas para isso precisamos de cérebros pensantes e não parasitados.
Edson Lourenço, estudante de direito do 5º ano da PUC-SP.